Oi Filoteu!
Estamos de volta! Hoje, depois de tantas festas significativas (SS. Trindade, Corpus Christi) que nestes dias nos levaram a meditar tanto o mistério de um Deus família, comunhão e participação e de um Deus que se faz presença e alimento, hoje a liturgia nos propõe o tema de um oficial romano, um pagão, está sofrendo com a enfermidade de um seu empregado o qual estava à beira da morte (ver Lc 7, 1-10).
Existem, por parte deste pagão, atitudes impressionantes. Ele se enxerga, se percebe na sua verdade mais profunda. Tendo Jesus se disposto a ajudá-lo, quando toma a direção da sua residência do tal militar, ainda a caminho, um alguém, enviado, um porta-voz com uma mensagem surpreendente diz estas palavras:
Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao teu encontro. Mas, ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado (Lc 7, 6-7).
Grandes virtudes nos são apresentadas: Ele não se sente digno. Não importa se ele é um oficial, se ele tem muita gente que lhe deve obediência, não importa se ele é um romano e portanto membro dos dominadores de Israel. Não importam seus títulos, seu poder nem sua riqueza (pois construiu uma sinagoga). Ele se apresenta diante do Senhor como na verdade ele é: um indigno. Além disso, entendamos bem que ele é um pagão. Não teve as oportunidades e graças particulares que o povo de Israel recebeu. Note-se que não há como não colher as grandes riquezas e grandezas desta alma. E a grandeza deste militar é a sua humildade. E a humildade, diz Santa Teresa de Jesus, é a verdade! De fato, somos indignos! Nada merecemos ou temos para que Deus nos ame, nos acolha ou nos escolha. Em Deus tudo é gratuidade! Tudo é liberdade! Qualquer recompensa, qualquer premiação não se deve a merecimentos, mas à bondade divina. Imaginar que Deus não precisa de nada e de ninguém, que Ele se basta ao infinito, e mesmo assim se decidiu nos criar, nos salvar e santificar, se envolveu conosco e deu-se a nós sem reservas e nos concede seus dons por pura misericórdia. No meio de tantas situações onde as pessoas se sentem necessitadas de aplausos e reconhecimentos, merecedoras de prêmios e louvores (imensa ilusão e terrível presunção!), a atitude deste pagão é uma luz que dissipa as trevas. Nem na presença do Mestre este oficial se acha digno de estar. Todos, mas especialmente para os que estão no serviço de Deus vale a lembrança do texto de Lc 17, 10:
(...) quando (vocês) tiverem feito tudo o que for ordenado, devem dizer: "Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever
Atenção! Depois de ter cumprido todo o nosso dever, devemos dizer e crer de todo coração que somos servos inúteis! Nem sei se cumprimos tão na íntegra o nosso dever! Será que vivemos com tanta intensidade e fervor o que somos chamados a viver?
Além de uma humildade profunda, um outro fator entra em cena: a confiança na força da Palavra de Deus. "ordena com a tua palavra", pede ele na mais profunda humildade e na mais robusta fé. Tanta confiança no poder de Deus move o Senhor na sua direção. Essa é uma oração que não pode nos faltar: Ordena com a tua palavra! Fala, Senhor, dize alguma coisa coisa. Tua palavra criadora pode curar, pode salvar, pode fazer novas todas as coisas, pode mudar o rumo das coisas. Por isso, fala pois teus servos inúteis escutam. Sim, somos inúteis, teu evangelho nos ensinou a dizer e a assumir esta consciência profunda. Servos inúteis! Tu, ó Senhor não precisas de nada e de ninguém! Caia por terra o nosso orgulho, vire pó e seja levado ao vento todo resquício de presunção de achar que somos necessários. Estamos no serviço de Deus por pura bondade de Quem nos chamou. Não estamos fazendo nenhum favor em por-nos no serviço de Deus, mas é ele que nos faz este grande favor em chamar-nos para tão grande privilégio. Quanto mais a pessoa se esforça, se sacrifica, se doa, se gasta nos serviço do Todo-Poderoso, tanto mais favorecida! Em meio a tantos favores cabe-nos apenas pensar e crer: não mereço nada disso, se Deus quiser tirar-me alguma coisa ou tantas coisas ou tudo, só me resta agradecer, pois sua imensa sabedoria presente em sua Providência dispõe de tudo e de todos, de cada situação em vista do nosso bem. Da minha parte, mesmo indigno, confiando que Deus tudo pode com a força de seu braço onipotente, resta-me fazer o que me for possível, tudo quanto esteja ao meu alcance. Resta-me dar-me, consumir-me sem medo, sem reservas, sendo ao máximo, ofertando-me, sendo fiel colaborador de Deus. Ser humilde e cheio de fé não significa viver complexos bobos de inferioridade. Não significa fugir ou se omitir sempre por medo ou síndromes de acanhamentos ou timidez mal resolvidos. Saindo dos trilhos, pecando ou afastando-me do seu projeto não hesitarei em voltar, em me arrepender e deixar-me acolher pelos braços misericordiosos do Pai que me acolhe e envolve. E, ...., recomeçar, sempre, sem medo, sem titubear, com mais alegria, com mais fervor, com todo o gás. Quem me pôs de pé e me chamou a segui-lo, me chama a dar passos, a caminhar para depois correr e voar na liberdade de Seu Espírito.
Que o exemplo do oficial romano nos inspire e motive! No meio de tantas decepções que Jesus teve com os discípulos, com as lideranças religiosas de seu tempo (especialmente com os fariseus), com as multidões e com as autoridades políticas, sobretudo por lhes faltarem a fé e a humildade, um pagão dá as coordenadas e o rumo certo para conquistar o coração do Divino Salvador. Sigamos-lhe os passos!
Um abraço para ti, caro Filoteu! Deus te faça cheio de fé e de humildade.