Oi Filoteu!
Depois de um tempo sem poder, conseguir ou não priorizar escrever neste espaço, (quem sabe, a não ser Deus?) pensei hoje referir-me a um fato na Escritura que muito me impressiona. Jogados no fundo da prisão, após cruel dor e aflição, Paulo e Silas não endurecem o coração. Tinham sido açoitados com varas, apanharam bastante e cada um não deixa de estar sereno e contente. Treva densa. A razão? Aquela que não tem razão, pois o mistério da caridade em ação, daquele homem que acredita e credita no céu sua vida. A razão? Diz a Escritura que no louvor e oração Paulo e Silas viveram os tempos da prisão. Em vez de tanta murmuração, de mal dizer e se endurecer, lá estão os dois prisioneiros "de alta periculosidade" a louvar e cantar, rezar e suplicar. Era meia-noite. Mas, a fé daqueles missionários transformou o ambiente lúgubre do cárcere em meio-dia! Que impressionante! O que aconteceu? Pois bem, conta-nos o relato bíblico que um terremoto violento, venceu a noite e as correntes, o tronco e as portas trancadas se abriram. (veja o texto completo em At 16, 22-27).
Cá com meus botões e com convicção penso e creio que haverá sempre terremoto na vida e na missão daqueles que enfrentarem seus sofrimentos animados e alicerçados na graça de Deus, pessoas unidas ao Todo Poderoso. Deus aumente esta convicção (as vezes ela não é tão grande, para prejuízo nosso!). A liberdade é fruto da verdade e com certeza voará quem não se amarra a nada, a ninguém ou algum projeto. Quem não se apega à sua tristeza ou alegria, fracasso ou conquista, gozo ou dor, mas espera no Senhor. Nele confia e sem medo dá passos, ou melhor alça este voo das pessoas conquistadas e libertadas por este amor tão único e especial. Evangelizados e evangelizadores, os que foram ofendidos e o ofensores que se arrependem, os justos sustentados pelo favor de Deus e os pecadores convertidos pela sua poderosa ação, tudo isso nos dá a dinâmica e a beleza de corações abertos e libertos, conquistados e arrastados pela misericórdia que é amor. O carcereiro acolhe Paulo e Paulo, por sua vez, acolhe o carcereiro que se torna cristão. Não é mais o que me magoou e feriu no passado! É meu irmão no presente! Vidas reconciliadas, vidas em comunhão, imagem da Trindade, Deus família, diversidade na unidade.
Penso nos nossos carcereiros hoje! Quem nos ofendeu ou não ajudou, quem nos rejeitou ou não acolheu, quem foi tão diferente ao ponto de ser indiferente ou sei mais lá o quê. Quem se opõe ou se indispõe: lá estão nossos carcereiros! Será mesmo? Quem deixou-se encarcerar? Isso pra não falar (e mesmo assim devemos lembrar e recordar) o quanto fomos carcereiros na vida dos outros.....
Louvar e rezar para as prisões se abrirem. Abrir o coração para não aprisionar ninguém (nem os outros, nem nós mesmos), isso é preciso. Grandes lições que os apóstolos nos dão. Quem quiser aprendê-las que seja feliz e siga o que pensa e diz (se seu pensar e seu agir algo de bom tiver). Quem não quiser seguir, fique na sua prisão, em meio à tremenda escuridão.
Um abraço e bênção do padre.