Oi Filoteu!
Hoje falarei sobre um dos filhos pródigos. falarei de um dos filhos que são pródigos. Os dois são pródigos, sendo que hoje é a vez do mais novo.
Lucas, no seu evangelho (ver Lc 15, 1-3.11-32) nos fala de dois comportamentos, atitudes dos filhos de um Pai que, movido por seu grande amor, é pura misericórdia. São dois filhos, são dois irmãos. Será que eles assumem esta verdade profunda em suas vidas?
Antes de entrar no assunto, é bom lembrar algo que, se não cuidar, às vezes é fácil esquecer: irmão não se escolhe, se acolhe. O irmão é um dom para mim. Isso não significa que ele seja um dom que vai mergulhar minha vida em alegrias e facilidades, doçuras e prazeres. Nem sempre é assim. O outro é diferente, nos desafia com sua diversidade e alteridade. Quem não se posicionar como um alguém que se dispõe a acolher este dom, com certeza se privará de muitas graças (uma delas, com certeza, um crescimento vertiginoso na sua humanidade e na sua caridade, alicerçada pela fé).
O mais novo pensa encontrar felicidade distante de seu pai. Trilha outros caminhos, deixa-se conduzir por seus desejos, caprichos e paixões. Desperdiça e gasta, sem freios, privando-se de qualquer cautela ou visão de futuro (não mede as consequências de seus atos e de suas escolhas desbaratadas). Esquece que por-se limites é vital para não desabar no mal destruidor.
Ora, alegria e felicidade sem fundamento dá é nisso: passa rápido, gera vazio, não preenche e a fome, própria da carestia que grassava naquelas paragens, fez o rapaz sentir o vazio. Não somente seu estômago roncava com o vazio, mas seu coração também perecia e gemia na amargura de uma solidão penosa e dolorosa. Vazio de uma existência sem Deus! Os porcos cuidados pelo rapaz nos faz pensar ou supor a miséria profunda que o envolvia. Até mesmo a comida dos porcos lhe foi negada. Os judeus ao ouvirem uma história tão terrível devem ter-se horrorizado com uma dignidade que foi destruída, solapada pela miséria.
Ora, foi exatamente este sofrimento tremendo e indescritível que fez o rapaz pensar, refletir seriamente. Ele não precisa estar ali, sofrendo aquilo. algo de diferente, de produtivo, algo de afetuoso e amoroso, de digno, de tão bom lhe foi subtraído por ele mesmo. Na dor, se tocam os limites, a finitude nos faz sensíveis. E o rapaz caiu em si. Caiu em si porque estava fora de si, disperso nos prazeres e nas alienações e enganações que a vida fácil e irresponsável pode proporcionar. O jovem pródigo perdeu o foco, o centro e o rumo.
Que bom é pensar e reconhecer que se está na morte! "vou voltar" esse foi o seu propósito. A conversão, o retorno brotou de uma consciência de ter pecado. E tal consciência é decisiva na vida e na eternidade de alguém. Pio XII, já no seu tempo, exclamava: "A humanidade está perdendo o senso do pecado". Voltar, mas com humildade para readquirir a dignidade: "já não mereço ser chamado teu filho" (v. 19). Ser filho não é uma conquista, nem prêmio por merecimento: é dom gratuito como no-lo ensina alguém que entendeu e aprendeu do próprio Jesus o que isso vem a ser: "Vede que prova de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos" (1Jo 3,1). Do propósito para o gesto concreto, foi o passo do jovem sofrido e flagelado: "Então ele partiu e voltou para seu pai" (v. 20). Quem não parte para o gesto concreto, pode perder a oportunidade única de viver a conversão e tudo o que, de bom, ela pode proporcionar. Quantos pereceram por terem ficado só nos planos de mudar sem dar passos concretos para fazer isso acontecer! Felizmente esse foi ao encontro.
E, dando passos trôpegos e sofridos no retorno à casa, um pequeno ensaio para viver o encontro com o pai, deu-se a entender que um coração contrito e humilhado tinha substituído aquele coração orgulhoso e auto-suficiente. O pai, movido pela compaixão (compascere, do latim, quer dizer, sofrer com outro) não anda, mas corre na direção do filho que volta. Ele:
Correu: indica pressa em acolher
Abraçou: acolheu, recebeu junto a si e dentro de si
Beijou: indica afeto, ternura, carinho
Nem escuta o discurso ensaiado do rapaz arrependido, mas vai logo dando ordens para que os símbolos da reconciliação entrem em cena, ou seja, enquanto o filho faz a confissão da culpa e da indignação, o pai já festeja. O que vem a ser os símbolos da reconciliação:
Melhor túnica: é a veste batismal (não a roupa de grife ou cara, rica, aquela feita para seduzir ou aquelas roupas dos reis)
Anel: símbolo da esponsabilidade, do compromisso da partilha de vida
Sandálias: a liberdade para caminhar com segurança (o escravo andava descalço, o homem livre calçado).
O novilho gordo nos recorda a celebração da festa. Uma reconciliação que recorda e faz memória do Cordeiro Pascal, Cristo que gerou reconciliação com o Pai na cruz. O Cristo ponte, pontífice, com o pacto marcado com o seu sangue, lava as vestes sujas o oferece a melhor túnica: "Estes são os que vieram da grande tribulação, que lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro" (Apc 7,14).
Esse é um dos filhos. O próximo será considerado na próxima postagem. Não perca!
Um abraço e bênção!