Amanhã, na Igreja, teremos duas caras grandes datas. O calendário litúrgico celebra o grande patriarca São José, o humilde carpinteiro que Deus pôs à frente de sua casa para governá-la, cuidando de Maria, a Virgem Imaculada e Mãe de Deus, bem como do Verbo Encarnado, o Divino Salvador Jesus Cristo. Missão grande para um homem tão pequeno, tão pobre e tão simples. O único que tinha o pecado original foi a autoridade na vida dos dois seres humanos que o pecado original não conheceram e que não foram jamais contaminados com esta triste herança de Adão.
A Bíblia não fala que José gerou Jesus, mas diz expressamente que ele era o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus que é chamado o Cristo (ver Mt 1, 16). Ainda no mesmo versículo, São Mateus nos diz que o esposo da Virgem era filho de um certo Jacó. A gravidez misteriosa de Maria (não haverá nada igual a isso) foi marcada pela ação do Espírito Santo (ver vers. 18). Lucas nos conta os detalhes (Lc 1, 26-38) em que a humilde serva do Senhor recebe a embaixada angélica em que pelo anúncio de Gabriel, força de Deus, o menino se chamaria Jesus. Também o evangelista médico confirma essa ação do Espírito Santo vindo sobre Maria para que cumprisse sua grande missão: a divina maternidade.
José, obviamente não entende. Ninguém entenderia, por mais justo e iluminado que fosse! Os planos de abandonar Maria em segredo, ao invés de denunciá-la acontece porque José era justo (Mt 1, 19), isto é, era um homem santo, reto, temente a Deus, amigo do Altíssimo. José não quer atrapalhar e se puder ajudar, lá está ele. Não há título maior que esse: santo. Uma vocação que o Senhor nos convida a assumir, viver, irradiar. "Sede santos, porque eu sou santo" (1Pd 1, 16; Lv 19,2; 17, 1). Ou como diz o apóstolo Paulo: "Porquanto, esta é a vontade de Deus: a vossa santificação" (1Ts 4, 3). A santidade não é artigo de luxo, não é privilégio de uma elite espiritual: é dom de Deus e um chamado de todos os que no batismo foram introduzidos na comunidade eclesial, chamados a viver como filhos de Deus o Pai, irmãos e discípulos de Jesus, o Filho eterno e templos do Espírito Santo. José, o pobre e o pequeno assume esse projeto no silêncio e no escondimento da carpintaria, protegendo a vida divina, fazendo-a crescer. A mensagem do alto é profundamente significativa:
"José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo" (Mt 1, 20).
Eis a grande mensagem: Não ter medo receber Maria! Eu também, caro Filoteu não quero jamais ter medo de receber Maria e te convido a que tu também não tenhas medo. Não temas! Maria nos dará Cristo, nos introduzirá na vida do Mestre Divino e nos ajudará a ser discípulo. José nos ensina isso de forma eloquente e tocante. Ao lado de Maria, o carpinteiro humilde dá um testemunho eloquente de uma vida de família que ofereceu a Jesus as condições daquele crescimento humano absolutamente necessário para um crescimento integral: "em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens" (Lc 2, 52). O Todo Poderoso confiou uma missão ao humilde galileu que com toda certeza ia muito além de suas capacidades e condições! Ele é filho da obediência, é servo do Senhor, como sua esposa a Virgem Maria. Não lhe cabe duvidar ou questionar, mas aderir e confiar pois Deus acompanhará e ajudará com sua graça e providência. Coube a José dar um nome a Jesus (que quer dizer "Deus salva"). Dar o nome a alguém significa exercer sobre este alguém uma particular autoridade. Que honra e que mistério é esse?!?! O próprio Verbo de Deus "Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura porque nele todas as coisas foram feitas" (Cl 1, 15-16a), esse mesmo Verbo que era desde o princípio, estava com Deus e era e sempre será Deus com o Pai e o Espírito (ver Jo 1, 1), pois bem, a segunda Pessoa da Adorável Trindade se submeteu a José.
Acho que submeter-se a José é uma maneira concreta de seguir os passos de Jesus, um dos modos de viver o nosso discipulado para com o Redentor a quem somos chamados a seguir. Se Jesus cresceu sob os cuidados de José, creio firmemente que essa vida do divino Salvador Jesus crescerá em nós se também vivermos sob o patrocínio eficaz do humilde carpinteiro de Nazaré. Creio que as virtudes de José, sua castidade, sua humildade, sua vida interior profunda, seu espírito de serviço e de iniciativa, tudo isso regado por uma caridade imensa que vinha de Deus, eis o que somos chamados a viver. Não querer aparecer, mas unicamente fazer de tudo para que a vida de Deus cresça nas almas. Nossa vida seja pois uma Nazaré, um lugar cheio de virtudes onde Jesus seja o centro e os amores do nosso coração. José e Maria serão para sempre modelos de como ser discípulo, como ouvir e aprender de Nosso Senhor os caminhos de uma vida santa agradável ao Pai.
Enfim, a tradição viu em José o patrono da boa morte. Foi-se José nos braços de Jesus e de Maria. Haverá morte mais doce que esta? Viver como José viveu e recomendar-se a Ele, tê-lo como pai, a exemplo de Jesus, acho que tornará a nossa vida cheia de tanta luz que nossa morte nada mais será que uma páscoa feliz. Também José virá ajudar a nossa pobre alma e nossa prostração de moribundos e atrairá Jesus e Maria e partiremos em paz e felizes para o encontro definitivo com a Trindade que é nossa eterna Felicidade.
Uma palavrinha sobre Francisco, o papa que amanhã será "coroado" (não há mais coroações desde João Paulo I, lembro bem disso). Lá, o humilde e tão simples pontífice vai receber o anel do pescador e o pálio pontifício. Lembro que terá uma grande missão, a grande missão de amar mais que os outros e apascentar as ovelhas e cordeiros do rebanho do Senhor Jesus.
Receberá, como Pedro as chaves do Reino dos Céus e estará á frente de uma Igreja onde as portas do inferno contra ela não prevalecerão. Francisco é um nome que nos fala de pobreza radical, de humildade profunda, de amor esponsal a Nosso Senhor Jesus Cristo e amor fervoroso pela Igreja. O nosso querido Papa que já conquistou os corações com sua simplicidade e já me divertiu muito com sua espontaneidade e coração de criança já nos aponta os horizontes da luz que vem do presépio, de Nazaré, da vida simples do Salvador e do calvário. Algo de novo no ar: eis o que se percebe! O apelo do crucificado em São Damião: "Francisco, reconstrói a minha casa, ela está em ruínas". Há sempre ruínas na casa de Deus onde há o meu pecado, o teu pecado e o pecado de todos os outros cristãos. Não adianta ficar escandalizado com os escândalos que têm pululado e pipocado de todo canto se não houver uma consciência que a reconstrução começa comigo e a partir de mim. A radicalidade evangélica, a vida simples, o amor e a misericórdia, o perdão que salva o mundo, o espírito das bem-aventuranças tudo isso não utopia vaga e distante, não são coisas impossíveis ou utopias para fazer sonhar! Papa Francisco recorda-nos os pobres: "Com gostaria que a Igreja fosse pobre e fosse uma Igreja com os pobres" disse ele numa de suas primeiras audiências.
Seja bem-vindo Papa dos pobres, papa da humildade, da simplicidade dos pequenos, papa da caridade: "Tu és Pedro!!!" e contigo queremos ir para as águas mais profundas e lançar as redes. Tu, Francisco, "és Pedro", és pedra em Cristo Jesus, "a pedra angular". Com sapato vermelho ou preto, não importa a cor, teus pés de mensageiros são belos e contigo, sucessor de Pedro, queremos seguir Jesus. Salve o Papa! Viva o Papa! Francisco, pontífice máximo, para memória eterna, como servo dos servos de Deus.
Um abraço e minha bênção para ti, Caro Filoteu!