"Coragem, sou eu, não tenhais medo!" (Mc 6, 50).
Essa foi a confortadora palavra dirigida por Jesus aos discípulos, que, atordoados pelas ondas fortes e ameaçadoras, temiam naufragar. Eles estavam cansados de remar pois o vento era contrário, assim diz o texto (ver o texto todo em Mc 6, 45-52).
Fico pensando hoje, nos desafios que nunca faltam e nos problemas que sempre nos põem contra a parede (pessoais, sociais, econômicos, políticos, religiosos, etc, etc, etc). Não poucas vezes é possível dar-se conta da própria impotência ou mesmo da própria incapacidade e incompetência ante os revezes da vida, as tribulações e as inomináveis tentações (além dos pecados) que nos fazem tocar nossa fraqueza. Claro, não se está aqui tentando articular um discurso pessimista nem mesmo negativista. No entanto, estamos diante de um fato concreto: as dores da vida e os limites. E aí? O que fazer? Com certeza usar a inteligência para encontrar soluções, usar dos recursos que se tem para por em ação estas soluções, mobilizar pessoas que possam ajudar, ser razoável e corajoso durante o processo (talvez longo) de enfrentamento do problema (enquanto a solução não chega). E quando não chega mesmo, aí mais cabeça fria e bom senso, realismo e firmeza para não desabar junto com o problema ou com os problemas. Com certeza, a pessoa humana é dotada, na sua natureza, de tantas ferramentas produzida pela sua criatividade, genialidade, capacidade de iniciativa e mobilização, articulação e operacionalização. O que já se evoluiu de uns tempos pra cá é algo que não dá mesmo para não considerar.
Entretanto, lá está o homem e a mulher, ainda aqui e agora: Insatisfeitos, com um senso de que falta alguma coisa. Tem-se tanto (para quem tem, claro!), mas vem aquele vazio, aquele senso de que a felicidade existe mas não é total. E, enquanto vivermos, nunca será. A pessoa humana está sempre insatisfeita, e, quanto mais complicada e refinada, tanto mais egoísta e perfeccionista, nunca a medida está completa e tanto pior é a situação de infelicidade, mesmo tendo tanto e conquistado muito. E, quando está tão satisfeita ao ponto que a fé não é mais necessária? E quando está tão cheia de conhecimentos e de ciência, de dinheiro e de bem-estar que Deus é mais conversa de gente que precisa de uma fé pra se consolar? Bem, ainda assim, sem pensar de julgar, nem condenar ninguém, acho que os crentes (que verdadeiramente creem, e procuram não os milagres de Jesus, mas o Jesus - fazendo milagres ou não, fazendo ou não fazendo o que queremos!!!!), estes encontraram o tesouro! O verdadeiro tesouro. Não querem ser felizes sem Ele porque entenderam que isso, no fundo no fundo, é impossível!
Agradeço ao Senhor porque temos um tesouro. E espero que ninguém dos que cremos o desvalorize nem o desperdice: A nossa fé. Uma certeza que lá está o nosso caro Jesus, lá está Ele sofrendo conosco, fazendo-nos crescer com as tempestades da vida e fazendo ouvir em cada momento de oração e em cada momento da vida: "Coragem, sou eu, não tenhais medo". Palavras preciosas, palavras confortadoras, animadoras, entusiasmantes. Sei lá! Fico pensando como é bom tê-lo. Hoje, quero nesta postagem, mais que pensar nos problemas (sem cair na alienação ou fazer da fé um analgésico ou um ópio, como acusava Karl Marx), fixo meu olhar n'Ele. E com os olhos fixos na pessoa tão divina e tão humana entendo que, este caminhar sobre as águas é um sinal que Ele tem tudo sob controle. Claro, sei que Ele quer que nos esforcemos em remar, mas, a certeza da sua graça, do seu socorro, da felicidade de entrar no mar da vida e navegá-lo com Ele dá um sentido, um valor tão maravilhoso que, ainda que não tivéssemos problemas ou dores, ainda que fôssemos totalmente autossuficientes, não poderíamos viver um segundo sem essa presença, sem esse caminhar sobre as águas da vida presente. Agradeço e sou feliz por Ele, por sua Presença santa. Por mais que O tenhamos menosprezado ou esquecido, ofendido ou até expulsado de nossas vidas, hoje, ante essa palavra forte que é Ele mesmo, só nos resta agradecer, bendizer e pedir que não se afaste de nós quem dá sentido, valor e vigor ao que somos e fazemos.
Registro minha gratidão ao Pai de Jesus por tê-lo gerado na eternidade e no-lo tê-lo enviado, ao Espírito Santo por tê-lo esculpido em nossas almas, à Virgem Maria por tê-lo acolhido no seu coração e em seu ventre oferecendo a sua humanidade para que Ele em forma humana viesse até nós. Minha gratidão ao humilde carpinteiro São José por ter ajudado Maria no processo de crescimento de Jesus lá no escondimento de Nazaré e, por fim, agradeço a todos os que no curso destes séculos o seguiram, o amaram, o levaram aos outros, deram a vida por Ele e se uniram de tal forma a Ele que vieram a ser uma coisa só com o nosso caro Jesus. A todos os cristãos de todos os tempos, a minha mais sentida gratidão e meu reconhecimento.
Convido-te, caro Filoteu a lançar esse olhar silencioso e neste mesmo silêncio deixar-te olhar por Ele. Toma consciência desta Presença tão essencial e tão especial, deixa que esse instante tão carregado de eternidade e tanta plenitude seja uma fonte de ânimo para tomar os remos e prosseguir a singrar o mar e, sem medo navegar sob o eco de uma frase:
"Coragem, sou eu, não tenhais medo!"
Que Ele fique contigo.... e de Ti não se aparte mais. E, pelo mais, fica tranquilo: Em tão indescritível companhia que haverias tu de querer mais?
Nele, por Ele e com Ele!