Tem gente que morreu e que ainda vive. Tem gente que vive, mas morreu! Um contraste, não somente frase de efeito, mas fato, com efeito. É isso aí Filoteu! A verdadeira vida se traduz, com certeza, na saúde, educação, razoável condições financeiras (muita riqueza e poder pode ser muito perigoso!), um bom relacionamento com os outros, etc. Ora, há um problema de base, um problema que diz respeito a todos e responsabiliza de modo especial quem crê: na verdade, a vida autêntica não se esgota no tempo presente, aqui neste mundo. A vida genuína longe de ser uma experiência de "se dar bem" aqui e agora é feita de uma amizade com Deus que vai preenchendo todos os vazios que o coração humano pode ter. Trata-se de uma caminhada rumo ao Céu onde a terra é lugar de passagem, espaço onde as oportunidades são oferecidas no tempo, mas sempre na perspectiva de uma eternidade onde Deus será tudo em todos (1Cor 15,28), como diz o apóstolo.
Tem gente que morreu e ainda vive. E que vida! a vida de Deus os preenche e uma felicidade sem fim dá um sentido todo transfigurador àqueles que, dóceis à ação do Espírito Santo, viveram com generosidade, entusiasmo e grandeza de alma uma bela amizade com o Senhor. Não que tenham sido perfeitos ou tenham "caído do céu", mas foram dando passos, foram se superando e crescendo no compromisso. Foram entendendo o que significa radicalidade, ou seja, a partir das raízes deixaram-se amar e conquistar por Jesus e daí deram-se sem reservas à obra de salvação e santificação que Deus os chamou a viver. Foram, como João Batista, os violentos, como o Mestre divino assegurou: "O Reino dos Céus sofre violência, e os violentos se apoderam dele" (Mt 11, 12). Que significa violento, neste sentido? Com certeza não aquelas pessoas que não controlam a própria agressividade ou ira, mas os que lutam para superar a si mesmos, sem se render às próprias fraquezas, pecados ou imaturidades. Laçam-se com coragem e determinação no caminho exigente de quem não compactua com a mediocridade, sem a presunção de ser o que não se é chamado. Bem, estes estão vivos! Estes estão em Deus, vivem já nesta terra o caminho das bem-aventuranças. Aprendem com as próprias fraquezas e erros, sem desanimar. Estes estão vivos.
Há os que morreram e estão vivos. É isso mesmo. Nem sempre tanta saúde ou tanto dinheiro, ou tanto poder significa necessariamente ter vida plena. Com certeza será uma vida repleta de oportunidade e de conquistas, mas, será mesmo uma vida plena? Depende! Nem sempre, às vezes! Jesus ensina que a "vida do homem não depende dos bens que ele possui" (Lc 12, 15). Deus não quer outra coisa senão que vivam sob seu auxílio e na sua graça aqueles que Ele escolheu. A vida eterna já começa aqui e agora. Mas, há que se ter muito cuidado. Há muitas distrações, seduções e atrações para as pessoas hoje em dia. O mundo está sedutor como nunca com seus progressos e seus produtos, propostas e encantamentos. É aí que a coisa pega! Muita gente se anestesia da vida divina e se aliena das coisas eternas. Miseravelmente alienadas! Daí que, o risco de se apegar ao que passa, significa passar também.
Não tem como: nós nos definimos a partir de nossas opções. O valor que damos a tudo se mede pelas prioridades que elegemos. E, a cada dia ou se escolhe a salvação ou se escolhe a perdição. O para sempre da eternidade é implacável e definirá a vida de cada homem e mulher. O que escolhemos repercutirá no sem fim do além-terra. Viver! No tempo e no espaço da história como um rio que desemboca no mar da eternidade. É inevitável que assim seja. E a irmã morte corporal será o ponto de passagem para essa dramática realidade que alcançará mais dia ou menos dia cada homem e mulher, caminheiros rumo a este ponto de chegada.
Abraço para ti, Filoteu!