O fim do mundo. Será o fim dos problemas? Será o fim "da festa"? Será um ponto final? Qual será a bendita data do fim do mundo?
Jesus voltará! Sim, voltará e sempre vem. Ele está no meio de nós, dizemos na liturgia eucarística. Mas, será que só se diz? Ou se crê nisso, de verdade? Jesus vem a cada dia, está conosco e nos assiste. De fato, ele prometeu: "E eis que eu estarei convosco todos os dias até à consumação dos séculos" (Mt 28, 20).
Com certeza, um dia o mundo terá um seu final, uma conclusão do curso da história. A palavra de Deus é clara:
(...) o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas estarão caindo do céu, e os poderes que estão nos céus serão abalados (Mc 13, 24-25).
Tudo passará! E nem precisa esperar o fim do mundo e a gente já começa a perceber, na medida em que os anos passam esta realidade: amigos se afastam (vão morar noutro lugar, por tantas razões se perde o contato, morrem), as coisas que a gente tinha, não tem mais, adquire outras, a cabeça da gente muda e passamos a pensar de forma diferente. Alegrias passam e as tristezas também, problemas e soluções se alternam e de repente, a gente olha para trás e tudo se foi. Aquilo ou aquele que parecia insubstituível, indispensável se vai e vem outra coisa e pessoa e a vida prossegue. O cemitério está cheio de gente insubstituível! Em Roma, há um ditado que diz: "Morre-se um papa, faz-se um outro". Sim, é fato: todos e tudo passarão. E, nem precisa esperar o fim da história!!!
O Senhor, justo juiz, dará um veredito final sobre a vida das pessoas. Diz Sto. Agostinho: "Veio primeiro e virá depois". A sorte não será a mesma entre justo e injustos. Aquele que vem nas nuvens com grande poder e glória (cf. Mc 13, 25b), Ele mesmo enviará seus "anjos e reunirá seus eleitos, dos quatro ventos, da extremidade da terra à extremidade do céu" (Mc 13, 27). Ele julgará com clareza e imensa justiça, com perfeição, pois ele que sonda o íntimo dos corações conhece as intenções e motivações. Sabe com infinita precisa quem é quem. No profeta Daniel, lê-se:
E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno. Os que são esclarecidos resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que ensinam a muitos a justiça hão de ser como as estrelas, por toda a eternidade (Dn 12, 2-3).
Deus dará a última palavra! Deus não está apático ao bem realizado, Deus não deixará de recompensar a mínima atitude de fidelidade, de amor, todo esforço para viver na sua amizade. Assim como não deixará sem um juízo de condenação a toda falta de amor, de fidelidade, de compromisso, a todo egoísmo humano e não correspondência à graça, especialmente quando nem esforço de conversão existiu. Nossa ações, nossas atitudes, nossas opções repercutem na eternidade; nosso tempo, efêmero, limitado, desembocará no definitivo onde não haverá mais tempo nem espaço. Vigiar e orar, eis o que o Mestre nos exorta: "Atenção, vigiai, pois não sabeis quando será o momento" (Mc 13, 33). Hoje, apegados ao momento presente, fixados no agora, desconectados do passado em sem perspectiva de futuro, muitos vivem anestesiados ou alienados das realidades eternas. É fácil viver dopados, indiferentes que há um céu, um inferno no além. Mais uma vez, a sensibilidade espiritual de Sto Agostinho nos ajuda:
Que, então, devem fazer os cristãos? Usar do mundo; não servir ao mundo. Como é isto? Possuindo, como quem não possui.
E para ilustrar, o bispo de Hipona lembra o que diz o apóstolo Paulo quando na carta aos coríntios exorta:
De resto, irmãos, o tempo é breve; que os que têm esposa sejam como se não a tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; e os que usam do mundo, como se não usassem; poise passa a figura deste mundo. Eu vos quero sem inquietações" (1Cor 7, 29-32).
Ora, lembra mais uma vez o nosso inseparável quia desta reflexão:
Quem não tem inquietações, aguarda com serenidade a vinda do Senhor. Pois que amor a Cristo é esse que teme sua chegada? Irmãos, não nos envergonhamos? Amamos e temos medo de sua vinda. Será que amamos? Ou amamos muito mais nossos pecados? Odiemos, portanto, estes mesmos pecados e amemos aquele que virá castigar os pecados. Ele virá, quer queiramos, quer não. Se ainda não veio, não quer dizer que não virá. Virá em hora que não sabes; se te encontrar preparado, não haverá importância não saberes (Sto Agostinho).
Assim sendo, acho eu que, bem mais que ficar a pensar e pior ainda supor esta data da vinda do Senhor, melhor é viver ocupados ao invés de viver preocupados. Ocupemo-nos em viver fazendo o bem, engajados na vontade de Deus, em agradá-lo em tudo. O Senhor é nossa felicidade e ponhamos sua face ante tudo o que fazemos, ante nós, nossa vida e nossas intenções. Ele que nos ensina o caminho para a vida, com certeza, junto a Ele felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao lado Dele (ver Sl 16[15]).
É preciso lutar, se quisermos vencer. É preciso ir para a peleja, se quisermos ser coroados. Lutar contra o demônio é duro e penoso, pois o tentador não desiste nunca e insiste sem desanimar até ver-nos no inferno. Lutar para vencer a si mesmos é empreitada que só as pessoas livres interiormente se dispõem a viver. Não deixar-se arrastar pelo mundo e sua propaganda enganosa, só os enraizados em Cristo conseguem superar. Parece difícil e desanimador falar das dificuldades! Mas, se lembrarmos do que diz o apóstolo: "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós" (Rm 8, 18) e ainda: "E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam" (Rm 8, 28), então, outros galos nos cantam. Com alegria afirmaremos com o mesmo apóstolo Paulo: "Mais em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou" (Rm 8, 37). Este capítulo 8 de Romanos tá com tudo!
Que a lembrança e a esperança da feliz eternidade nos anime a vencer as tentações de nos apegar ao que passa e que as provações sejam não caminhos de desânimo e de desgosto, mas itinerários de crescimento e superação para que em nós Cristo viva e reine. Ele que é Deus com o Pai e o Espírito e é Adonai pelos séculos dos séculos. Amém.
A ti, caro Filoteu, sejas forte e caminhes sem medo rumo à eternidade.