"A solidez e a firmeza da verdade de Cristo se enche de doçura da doação de um Deus que é só Amor!”
(Pe Marcos Chagas)

sábado, 27 de outubro de 2012

Bartimeu, o cego cara de pau

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Oi Filoteu!

   Hoje a liturgia trás para reflexão um texto pra lá de interessante. O cego de Jericó toma conta da cena, junto com Jesus. Conta o texto (Mc 10, 46-52) que Jesus estava saindo de Jericó, com seus discípulos e a multidão. E muita gente fazia parte da multidão. Bem, fazer parte de multidão não é complicado. É cômodo e até fácil. Basta seguir todo mundo. Basta acompanhar a massa de gente. Em geral, é um povo que está atrás da beleza do discurso (é bom lembrar que naquela época não havia internet, nem televisão, nem uma porção de coisas que a gente se entrete até sem sair de casa!), atrás também dos milagres e das novidades!!!! Ser discípulo significa algo bem mais profundo e comprometedor. Significa aprender do mestre, segui-lo não somente com os pés, mas com a cabeça e com o coração. Ser discípulo é na verdade uma atitude constante de dispor-se a mudar, a transformar dentro de si, a conformar-se ao mestre e ao que a sua vida e suas palavras estão a exigir. O discipulado é caminho seguro de quem deseja crescer, amadurecer. Não é um ir atrás de novidades ou de facilidades, nem de oba-oba, nem mesmo de soluções mágicas dos próprios problemas. Ser discípulo é caminhar, ou seja, dar passos, progredir, avançar, ser e não somente fazer.
    Voltemos ao ceguinho! Ele é cego, vive na escuridão. Diz o ditado popular que o pior cego é aquele que não quer ver. As vezes viver na escuridão pode ser fácil, cômodo. Falo da escuridão interior. É desafio grande encontrar a luz e na luz ver a verdade das coisas, das pessoas, dos fatos. E quando essa luz é lançada sobre nós mesmos, nossa fraqueza e miséria aí é que o bicho pega! Olha Filoteu, é preciso coragem para se encontrar com a luz e deixar-se iluminar. É preciso determinação para ser vidraça limpa, transparente para deixar a luz iluminar através de nós. É preciso sempre purificar-se, limpar, polir, tirar as manchas. 
    Bartimeu, no entanto, não é tapado. Não é bobo. Quer sair da escuridão. Portanto, ele é corajoso. Sabe, ou consegue intuir, ao menos que Jesus é a luz. O Mestre fala de si mesmo: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida" (Jo 8, 12). Cristo é a Palavra eterna que enche de luz nossas vidas, liberta-nos das trevas e de todos os limites que as trevas podem proporcionar para quem nelas vive. É bom lembrar que viver na escuridão é sempre algo que limita nossos passos. Daí que, além de cego, Bartimeu era mendigo. Não conseguia dar passos rápidos, firmes e bem direcionados. Conta o evangelho que comentamos agora que "estava sentado à beira do caminho" (Mc10, 46). Estava à beira do caminho! Um excluído, ou alguém que hesitava porque estava na escuridão. Jogando isso para o campo espiritual, faz pensar! Mas, voltemos para o nosso personagem. Ele não é bobo. Ele é ousado, digamos, um bom cara de pau. Tá pouco se lixando pra o que vão dizer dele. Temos que aprender desse carinha esperto. Bota a boca no trombone e põe-se a berrar, gritar: "JESUS, FILHO DE DAVI, TEM PIEDADE DE MIM!" Marcos põe nos lábios do nosso deficiente visual uma profissão de fé messiânica: Ele crê que está diante do Messias, do Salvador. Ele pede a piedade num gesto forte de humildade, de confiança, de abandono. 
    Um ponto interessante, inusitado e fortemente arrasante! Ele grita e o grito dele incomoda a multidão dos seguidores de Jesus. Meu Deus! Quantas vezes eu e tu, caro Filoteu, ficamos incomodados com os que gritam pelo auxilio de Jesus? Será mesmo que as pessoas que o buscam encontram em nós apoiadores ou críticos incomodados? Sei lá! Fico a pensar! E aí? Você grita pelo auxílio de Jesus, Filoteu? Será que o meu grito é forte também? Diz o salmista: "Na angústia invoquei ao Senhor, e clamei ao meu Deus; desde seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face" (Sl 18, 6). Claro, entenda! Não vá sair por aí gritando feito um doido e achando que é esse grito que Deus ouvirá. Não é questão de decibéis elevados à enésima potência! É o grito do coração, é a intensidade do desejo, é a firmeza da vontade, é a confiança naquele que invocamos, a quem confiamos nossas dores e angústias, expectativas e esperanças. A multidão quer que ele se cale. E ele? ah, ah, ah! Tá nem aí! Ele grita mais ainda. Ele quer se encontrar com a LUZ! 
    E Jesus para. Mas, diz o evangelho que o Senhor não se dirige ao cego, mas aos que o seguiam. Diz Marcos que Jesus falou à multidão: "Chamai-o" (Mc 10, 49). Bem que Jesus poderia se dirigir ao cego, mas não o faz. Dirige-se à multidão e seus discípulos. Por que? Talvez desejasse fazer daqueles seguidores, verdadeiros facilitadores, canais do encontro dele, Jesus, a infinita luz, com o pobre cego, mergulhado em sua triste e solitária escuridão. Jesus se serve de mediadores. E fazendo daquelas pessoas seus mediadores, ele transforma as disposições interiores destas pessoas com relação ao cego. De fato, ante a ordem do Mestre, aquela gente, antes incomodada, passa a abraçar a causa daquele mísero infeliz. Dizem para o que está à beira do caminho: "Ânimo! Levanta-te, pois te chama". Quem te viu e quem te vê! Quanta mudança. 
    Bartimeu, ente aquela palavra ressuscitadora, dá um salto, põe-se de pé, tirou o manto e se aproximou de Jesus. Tirar o manto tem um significado de libertar-se de apegos, de seguranças escravizadoras da experiência de quem está nas trevas. Por-se de pé indica prontidão, disponibilidade, estado de disposição para cumprir um mandato. Aproximar-se de alguém significa abertura para estreitar laços e criar vínculos, criar algum contato. O Divino Salvador faz uma pergunta: "Que queres que te faça?" (Mc 10, 51). Fiquei a pensar de novo: essa pergunta parece tão óbvia! Claro que ele quer ser curado, da vista!!! Ele é um cego, que mais haveria de querer? Como é que Jesus faz uma pergunta como essa? Pois é, caro Filoteu! A pergunta é importante e necessária. É preciso que o cego queira ser curado, é preciso que ele esteja aberto ao milagre de encontrar-se com a luz e passe a enxergar as coisas na verdade que essa luz permite ver. Nem todos querem ser curados da própria cegueira. É fato o que digo! Nem sempre, infelizmente. Mas esse cego quer ser curado e diz: "Senhor que eu veja" (Mc 10, 51). Essa oração há que ser dita frequentemente: Senhor que eu veja! Que eu veja não aquilo que me parece fácil ou agradável ver, aquilo que para mim é mais cômodo ver, mas o que me fazes ver tu! Gosto muito de um vidente pagão, do antigo testamento. O nome dele é Balaão. Diz a bíblia que ele vê o que Deus lhe faz vê pois ele é um homem de visão penetrante (ver Nm 24, 15). Que nos seja concedida essa graça imensa de ver o que Deus nos faz ver e ouvir o que o Senhor nos diz. Não aquilo que queremos ver ou ouvir, não aquilo que todo mundo quer ver e ouvir, mas aquilo que Deus nos mostra e aquilo que Ele nos fala. 
   E isso se transformou em salvação na vida daquele pobre homem. "Vai, a tua fé te salvou" (Mc 10, 52). A fé é como uma lâmpada acesa que ilumina o nosso caminho. Nossa luz é Jesus pois ele é a Palavra que espanta as trevas, mostra a verdade de tudo e não nos deixa na ilusão. Sim, a Palavra! Diz o salmista: "Vossa Palavra é uma luz para os meus passos, é uma lâmpada em meu caminho" (Sl 118, 105). Nessa luz, Bartimeu não ficará mais fora do caminho, mas será um caminheiro, um seguidor do Senhor, passou a seguir Jesus pelo caminho. Que caminho? O caminho que é Jesus mesmo: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim" (Jo 14, 6)
    Um abraço para ti!



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