Oi Filoteu!
O evangelho conta uma história muito curiosa. Achei importante refletir sobre ela. Trata-se de um episódio onde Jesus, após ter anunciado sua paixão, ou seja, ser “entregue nas mãos dos homens” para ser em seguida morto por eles, vindo a ressuscitar no terceiro dia. Ficaram tristes porque ficaram parecendo os cristãos da sexta-feira santa. Não passam dela. Não chegam ao domingo da ressurreição. Assim também, existem outros que só procuram a páscoa, não querem passar pela paixão e morte. Bem, não dá pra separar estas duas dimensões do Cristo total.
Em seguida, o cobrador do imposto do templo perguntou se Jesus pagava o imposto do templo. Claro que ele não deveria pagar esse imposto. Qual razão o liberaria desse pagamento? Ora, Cristo é o templo, por excelência! Ele é o lugar do encontro com o Pai, nele o culto mais perfeito ou mais pleno pode ser dado a Deus. Entretanto, para não escandalizar as pessoas Jesus manda Pedro fazer alguma coisa no mínimo inusitada: “... vai ao mar, lança o anzol e abre a boca do primeiro peixe que tu pescares. Ali tu encontrarás uma moeda; pega então a moeda e vai entregá-la por mim e por ti”. E aí? Sempre me pergunto: por que Jesus faz esse giro todo, dá todo esse trabalho a Pedro para pagar o imposto do templo? Não seria mais fácil ou mais direto que ele tirasse essa moeda da manga de sua túnica? Do jeito que fazem os mágicos tirando coelho da cartola? Por que não? Mas, Jesus não vai pelo caminho mais fácil, nem sempre pelo caminho mais lógico aos moldes humanos.
Os caminhos de Deus, em nossa vida, podem dar voltas impressionantes, pode ter contornos misteriosos, mas se houver confiança nele, se assumirmos uma postura de fé madura e firme, com certeza teremos diante de nós os caminhos por ele traçados. Em poucas palavras, os melhores caminhos. Os caminhos da salvação. Jesus não dá coordenadas que nos levam aos caminhos mais curtos, ou seguindo um atalho que faz a caminhada ficar mais rápida. No mundo do instantâneo, do mais fácil, do muito prático, do lógico e demonstrável, os caminhos de Deus acabam indo na contra mão e haja barroada. Qual a razão de tanto giro para realizar um simples pagamento? Pois é! A vida do próprio Senhor não foi uma linha reta, mas teve muito zigue-zague. Além do nascimento na gruta de Belém (naquela pobreza), da fuga para o Egito para fugir do Herodes, além também de toda uma misteriosa vida em Nazaré, o próprio fato de, na sua vida pública, viver uma missionariedade intensa, com metodologias de ação, com valores e critérios muito diferentes das lideranças religiosas de então, a sua morte na cruz e sua ressurreição tudo isso nos mostra que as coisas não são como todo mundo pensa ou como seria o mais fácil.
Aquele famoso ditado “Deus escreve certo em linhas tortas” exige que nós prestemos atenção às linhas tortas, pois nelas o Senhor está escrevendo certo. Nas contradições da história existe sempre a sabedoria do Senhor que realiza seus desígnios e do mal sabe tirar um grande bem. Claro, ninguém está autorizado a fazer o mal para ver o que Deus vai fazer, mas colaborar ao máximo com a graça divina e ser instrumento de construção, de vida, de paz. Deus quer encontrar em ti e em mim um colaborador, uma amigo, um instrumento. Eu te digo, Filoteu, tem confiança e tua fé seja firme e forte. Não queiras encaixotar Deus nos teus esquemas, nem engaiolar o Senhor Jesus em tuas expectativas humanas. Ele nos surpreende e nos supera, entra em nossa vida com seus misteriosos projetos, com seus pensamentos que estão além do mar, das montanhas e dos desertos, mais altos que as nuvens e que são mais profundos que os abismos. Mas, por detrás de tudo isso, há uma felicidade que nada neste mundo pode pagar ou comprar.
É crer e conferir. Ou melhor, é crer e aderir!