Oi Filoteu!
Tratando do combate espiritual, tratamos aqui dos mandamentos da serenidade, do bem-aventurado João XXIII, um papa que deu dicas
importantes e úteis para um vida feliz e tranqüila. Claro, por tranqüilidade não se entenda, em nenhuma forma, vida acomodada ou alienada!
A simplicidade é fundamental para que tal tranquilidade seja alcaçada. Com efeito, os complicados e cheios de si, os apegados e ansiosos não conseguirão a paz. Nunca é demais lembrar que as pessoas são postas por Deus em nosso caminho para que nos conheçamos e descubramos quem somos nós. As pessoas revelam quem somos. Inclusive quando as pessoas não nos amam ou nos detestam, ou nos descartam ou fazem de conta que não existimos, tais pessoas nos interpelam uma atitude, uma postura onde somos chamados a, corajosamente, nos construir. Elas não nos destroem, elas nos desafiam e nos oferecem oportunidades para que algo de bom aconteça, vindo da nossa decisão de amar e servir, de respeitar e de acolher, ainda que de forma indireta. Vamos então, às palavras do gordinho simpático (refiro-me ao papa João XXIII):
Só por hoje terei o máximo cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras; não criticar ninguém, não pretenderei melhorar nem disciplinar ninguém, senão a mim.
Eis uma proposta de comportamento que, de verdade exige tanto de cada um de nós. O que exige? Que nós nos desinstalemos. Isso mesmo, que cada um de nós saia de si e não fiquemos encastelados nos projetos, pontos de vista ou mentalidades, certezas ou apegos. E tanto fechamento ou tanto orgulho nos levarão, com certeza a sermos engenheiros do egoísmo que constroem muros. E essa engenharia é fácil de aprender e fazer. Basta deixar-se arrastar pelos caprichos do próprio orgulho e do próprio egoísmo! Desafiante mesmo é viver a engenharia do amor que constrói pontes. Sim, essa é uma engenharia exigente, complexa, cara, trabalhosa. Porém, não fiquemos na dificuldade, mas vejamos o lucro: ajuda na ida e vinda, no fluxo do amor, na comunhão e na efetiva comunicação da caridade que cria laços, cativa e cultiva o bem, a benevolência. Por isso, nunca é demais lembrar que as coisas mudam a partir de nós mesmos. Os grandes santos e santas, os grandes reformadores e reformadoras começaram a mudar a si mesmos para que essa mudança se expandisse em um efeito cascata gerador das mais genuínas transformações das estruturas e conversões pessoais e comunitárias. Essa delicadeza de modos, essa mansidão, esses bons modos, essa gentileza, esse bom trato com as pessoas, esse cuidado no falar, para que não fira a caridade e a unidade, serão como uma unção de cura, um preventivo de doenças nos relacionamentos. É bom não se iludir, caro Filoteu! Sem humildade tudo isso dá em nada! A humildade é como essa flor miúda, uma simples violeta, florzinha roxa, pequena, mas ornamento muito bem. Não é à toa que a violeta é símbolo da humildade. Mais do que nunca
se exige das pessoas maduras, e, ainda mais dos cristãos, esse bom trato, essa mansidão e doçura que, como dizia São Francisco de Sales, serão como mel. Dizia o santo bispo que “uma gota de mel atrai muito mais moscas que mil barris de vinagre”. Claro, ser manso ou de um trato amável não significa tentar agradar a todo custo as pessoas, nem submeter-se aos caprichos de fulano ou sicrano em prejuízo da verdade ou do verdadeiro bem. Não quer dizer subserviência, palavra que quer dizer, adulação, servilismo, viver uma dependência não sadia, falta de liberdade para ser o que se deve ser e fazer o que se deve fazer.
Papa João XXIII dizia: “Só por hoje”. Isso! Só por hoje, pois o ontem é passado, já se foi. O futuro é possibilidade e efetiva inexistência, é projeto, não é realização. O presente tem esse nome por ser um dom, uma dádiva que nos foi dada e que está ao nosso alcance para ser vivido de modo intenso e na prática do bem que pode e deve ser realizado. A vida acontece no presente e como presente ela pode se encher de eternidade, de uma feliz eternidade. E o segredo é esse: “só por hoje”!
Santa Teresinha dizia, em suas poesias, algo bem semelhante:
Pouco importa, Senhor se o futuro é sombio. Mas, suplicar-vos para o dia de amanhã, eu não posso, não Senhor. Conservarei meu coração puro, encobri-me com a vossa sombra. Por HOJE só, Jesus
Plante várias violetas no seu jardim, Filoteu, plante também as rosas da caridade, junto destas violetas e veja como Jesus se alegrará em ver a vida florida que é a sua vida.A humildade, além de assemelhar-se à pequena violeta, é como uma terra fofa e fértil, o reconhecimento que somos pó. Daí a soberba e altivez não têm lugar. E daí as outras virtudes encontram terra fértil para florecer. Faça como Santa Teresinha e desfolhe as rosas do seu amor no crucifixo. Essa é uma forma simbólica para falar da
caridade ofertada ante o Senhor que na cruz nos amou com amor eterno, até o fim, até às últimas consequências.
Uma bênção e um abraço para você, Filoteu, chamado a viver na mansidão e na doçura essa riqueza de bondade e de verdade que Deus depositou em ti!
terça-feira, 5 de julho de 2011
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