"A solidez e a firmeza da verdade de Cristo se enche de doçura da doação de um Deus que é só Amor!”
(Pe Marcos Chagas)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Deus vê!

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Oi Filoteu!

Prosseguindo os comentários sobre os dez mandamentos do papa João XXIII, lá vem outra pérola que o pap
a bom nos deixou:
"Só por hoje praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém"
O bem deve ser realizado e divulgado. Isso é uma certeza que não podemos deixar de assumir. Jesus ensina: “Brilhe a vossa luz diante dos homens para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus” (Mt 5, 16). Quando Jesus chamou os seus discípulos de sal da terra, de luz do mundo, ele, com efeito, não lhes permitiu viver se omitindo, mergulhados em falsos complexos de inferioridade, acanhados, medrosos e acovardados em sua atitude de fuga, ante o mundo e sei lá mais o quê. O protagonismo que os discípulos de Cristo devem assumir no mundo, para nele inserir-se estrategicamente, tendo em vista transformá-lo, é visível e inconfundível no Evangelho. E aí? Qual o sentido, então de fazer alguma boa ação escondida sem contá-la a ninguém?


Tem também outro trecho no Evangelho que Jesus convida seus seguidores a tomar muito cuidado com uma praga nojenta e venenosa: a vaidade, o exibicionismo, o estrelismo, a necessidade de reconhecimento e aplausos. Os fariseus, grandes lideranças religiosas do tempo de Jesus, tinham problemas graves nesta área. Eram personalidades narcisistas e cheias de falsidade, com terríveis deficiências de caráter. Estes fulanos adoravam uns holofotes (formas de expressão, pois naquela época holofotes obviamente não existiam). E faziam de um tudo para serem reconhecidos. Jesus exorta a que ninguém se meta a idiota, aos olhos de Deus, em fazer a mesma façanha de estupidez e engano pessoal.

Cabe aqui, uma perguntinha básica: como imunizar-se de tudo isso? Creio que uma das respostas pode ser: fazendo as coisas com discrição, sem alardes, buscando a glória de Deus e o verdadeiro bem das pessoas, vivendo o sacrifício diário, cultivando as virtudes e fazendo o bem, sem estas orquestrações de vanglória que fazem parte do cardápio dos mendigos de reconhecimentos humanos. E, no Evangelho, Jesus afirma (tomarei alguns versículos do capítulo 6 de São Mateus):

“Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos
homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu (v,1). Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa(v. 2). Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa (v. 5). Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa” (v. 16).

Então, não há contradição? E aí? Na verdade, uma coisa é a pessoa se omitir, outra coisa é se exibir. Uma coisa é fazer o bem e não ter medo em se expor por essa causa, sujeitando-se a elogios e críticas, aplausos ou vaias, louvores ou condenações por parte das pessoas humanas. E as pessoas humanas sempre poderão ter os mais variados pontos de vista e palpites sobre o bem que se faz! E é bom estar preparado para isso!!!! E o bem que Deus deseja de nós, deve ser realizado; se não for comete-se o pecado de omissão. Talvez, um pecado que a consciência acuse pouco. Será? O bem que deveria ser feito e não foi feito, incomoda a consciência? Portanto, olho vivo!


Outra coisa é fazer o bem esperando os elogios, reconhecimentos, aplausos, suspirar ainda que indiretamente por um pouco de popularidade, ganhar fama e celebridade, desejar ser amado, consultado, etc. E essa busca de reconhecimentos pode acontecer até de forma bem discreta, pouco consciente ou com pouca advertência. Quando a pessoa, ao invés do prestígio recebe a crítica ou a humilhação e fica por demais desolada, irritada, revoltada, vixe!!! Aí caro Filoteu é bom ligar os alarmes! E para evitar, justamente, esse egoísmo enrustido, um remedinho bom é fazer o bem de forma discreta, escondida, sem alarde. Aliás, é aconselhável treinar-se em fazer todo o possível e, ainda mais, de forma despercebida aos olhos das pessoas humanas algum bem: pequeno gesto de amor e serviço aos outros, uma prece a mais, um sacrifício, um esforço além do exigido, e outras coisitas do gênero. Podes crer, Filoteu, que isso purifica nossas intenções. Nossas motivações vão se tornando puras, gratuitas, despretensiosas. A vaidade humana é um nevoeiro denso que só é vencido quando deixamos a luminosidade solar da verdade desmascarar ou dissolver a densidade dos enganos e ilusões pessoais.


Quem fez esse propósito de fazer uma boa ação sem que ninguém veja era um papa! E, esse está sempre muito na vista de muita gente. Acrecente-se que não se trata de um chefe de estado comum. Estamos diante de uma figura de grande visibilidade, ainda mais João XXIII que além de bem gordinho, santo e popular, abriu o Concílio Vaticano II!!!!!!! Pense só!!!!! E nem por isso, ele deixou-se influenciar na vivência de tudo isso de vaidade, fazendo um mau uso do papado para uma projeção pessoal. Aliás, pouco importa ser o papa ou um humilde e escondido monge no seu mosteiro. Ser um humilde operário, pai de família e esposo ou ser um grande pregador, ou importante político (um presidente da república ou uma rainha). Para Deus, isso não é o decisivo. Como se vive nestas condições, os porquês, as escolhas feitas, as motivações bem fundamentadas em buscar o genuíno bem, eis o que importa. A propósito, sugiro que vejas no youtobe, um vídeo maravilhoso: a mulher invisível. Fantástico! Não te arrependerás em assisti-lo!


Pelo que se lê no evangelho é triste receber a recompensa dos homens e perder a de Deus. Uma mísera consolação terrena substituindo um reconhecimento divino. É uma troca bem desgraçada e profundamente burra.
Fica aí o desafio. Que Deus nos faça simples, humildes e discretos, mas também destemidos e ousados na prática do bem. Um abraço e bênção do padre.










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