Oi Filoteu! Estava meio ausente, mas não poderia deixar de te enviar minha mensagem de Natal. Estou postando na festa da Sagrada Família, mas em vista que o Natal tem oitava, isto é, comemora-se na liturgia por oito dias, então ainda dá tempo.
Caro amigo, a profecia de Isaías, (9, 1) de que o povo que andava nas trevas viu uma grande luz, a mesma luz que raiou para os que habitavam uma terra sombria como a da morte, bem essa profecia é para mim e para ti. Aquilo que se dizia do Batista, que ele não era a luz, mas veio dar testemunho da luz (Jo 1, 8) é a verdade que precisamos assumir. Que diremos mais? "Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, ele recebeu o poder sobre os ombros, e lhe foi dado ete nome: Conselheiro-maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno, Príncipe-da-paz" (Is 9, 5). Foi o mesmo que o anjo afirmou aos pastores: "Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi. Isto vos será dado como sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa majedoura" (Lc 2, 10-12).
Que nos resta fazer? Tomemos a decisão dos pastores e com eles afirmemos e façamos o que disseram: "Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer" (Lc 2, 15). O que é Belém? Casa do pão é o seu significado etmológico. Casa da Eucaristia, casa do sustento diário, do nutrimento indispensável. Casa do encontro ao redor da mesa. Imagem do que somos chamados a ser. Belém era a terra de Davi, o rei-pastor, um rei segundo o coração de Deus.
Mas, ao invés e nascer no palácio luxuoso, como é comum aos príncipes e aos reis, o menino foi encontrado deitado na manjedoura. Com certeza, um lugar pobre, marcadamente precário, sem conforto, quiçá, mau cheiroso. Presenças sublimes como a de Maria e e José enobrecem imensamente esse ambiente. A presença do Menino, vixe, nem se fala, pois eterniza, diviniza, ilumina ao infinito aquela pobre manjedoura! Outras presenças não podem passar des-percebidas; a dos pastores, homens marginalizados e dos animais que lá estavam, nos recordam que nossas sombras, nossas paixões, nossas fraquezas, tudo isso também faz parte do ambiente. O cenário é de pobreza, é bom frisar e insistir, mas foi nesse lugar que o Todo-Poderoso quis chegar.
Teu coração, caro Filoteu é essa gruta. E o Menino que é Deus com o Pai quis contigo se entreter, quis contigo viver e morar. Agora enquanto és peregrino e depois para sempre no Céu. Já pensou? Entra na tua Belém e adora aquele que os astros não podem conter. Entra na tua gruta e venera com devoção teu Salvador e Senhor. Toma-O nos braços e olha-O dormindo candidamente ou chorando de fome querendo mamar. Ou chorando por ter feito cocô ou xixi. Ou rindo para ti com aqueles olhinhos pequeninos, aquela boquinha aberta pelo bocejo do sono quase interminável dos recém-nascidos. Adora tanta humildade de um Deus assim grande e deixa-te amar por essa presença santa, por essa salvação desconcertante e tão indescritível bondade. Um mistério que só nos resta adorar, de joelhos e em silêncio.
Concluo com as sábias palavras de São João da Cruz, o doutor místico: "Uma palavra disse o Pai, que foi seu Filho; e di-la sempre no eterno silêncio e em silêncio ela há de ser ouvida pela alma" (Ditos de Amor e de Luz, n. 98).
Vinde e Adoremos!
Um abraço e feliz Natal!
Pe. Marcos.
PS: Falarei ainda sobre esse assunto e retomarei o tema das demais bem-aventuranças.