Uma realeza toda diferente é aquela de Jesus e de sua Mãe Maria. De fato, quando a gente vê os reis da terra, aqueles monarcas, suntuosos e pomposos, com suas cabeças coroadas são toda glória e toda imponência. Alvos dos paparazzi e de todos os bisbilhoteiros fuçadores da vida dos famosos, são vidas públicas e badaladas ao ponto de não terem paz. Entenda bem, caro Filoteu que não estou criticando em si. Apesar de muitos levarem uma vida um tanto fútil e vazia, creio que para outros são "ossos do ofício". Nada que espante ou escandalize.
São servidos por tantos empregados e secretários. Existe uma quantidade enorme de criados à disposição de suas majestades.
Outros nobres, bem diametralmente opostos a estes que eu descrevi, vivem uma outra dimensão de realeza. Refiro-me a Jesus e sua Mãe Maria. Recordando a memória da realeza de Maria no último dia 22 de agosto, e sou transportado para um outro conceito de Majestade, uma nova visão de nobreza. Desde que Maria engravidou, por obra do Espírito Santo, um novo tempo começou. A Divina Majestade, na Pessoa da Adorável segunda pessoa da augusta Trindade, "Deus de Deus e luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado e consubstancial ao Pai" (assim dizem as palavras do Credo Niceno-constantinopolitano), assumiu a nossa pobre carne humana, sujeita a fraquezas e dores, claro, menos no pecado. Eis um primeiro gesto de realeza, uma realeza que movido pela solidariedade e compaixão pela humanidade pecadora, assume nossa pobreza, nossa pequenez e nos vem lavar os pés, salvar-nos, resgatar-nos. Deus Onipotente se fez um de nós. Ora, no ventre da Virgem Maria, lá vai o "divino feto" e, na visita a Isabel, o Espírito de Deus faz acontecer uma manifestação de festa, de alegria, de reconhecimento da realeza de Cristo Senhor e de sua santa Mãe, vindo ser testemunha e portar o Mistério, além de por-se a serviço à sua prima anciã. Impressionante! Começa um novo tempo onde os conceitos inusitados do servir passa a ser necessariamente os conceitos do reinar. Portanto, longe daquelas pompas dos palácios, o cenário se desenvolve na pobreza de Maria peregrina e de seu Jesus ainda totalmente dependente do organismo e dos cuidados de sua genitora. Ainda no útero materno, é desconcertante contemplar o Eterno Verbo feito carne, armar a sua tenta de peregrino junto de nós, peregrinos na história, na esperança da eternidade (ver Jo 1, ). E daí se junte as outras expressões admiráveis da realeza de Jesus e Maria: a gruta de Belém, a fuga para o Egito para ali viver como exilados políticos, a vida pobre de operários em Nazaré, a vida pública do Senhor que não tinha onde reclinar a cabeça e por fim a pobreza suprema da paixão dolorosa do Salvador e seu aniquilamento na cruz, em nudez, dores e abandono.
Durante sua vida, Jesus afirmou: "O maior entre vós é aquele que serve" (Mt 23, 11). Todo o capítulo 23 de Mateus, Jesus se põe a analisar comportamentos de lideranças religiosas apegadas à própria honra e prestígio. Gostavam dos primeiros lugares, amavam o reconhecimento e o reconhecimento das pessoas. Uma orquestração de vanglória, um lamentável cortejo de vaidades sem fim, de exibicionismo e de imensa necessidade de autoprojeção. Jesus disse que não é assim que a casa real dos seus seguidores deveria se comportar. Ser membro da família real significa viver o serviço, na humildade e na generosidade, buscar a glória de Deus e o verdadeiro bem das pessoas. Não significa ser famoso, ou conquistar prestígios e aplausos, ter o reconhecimento e atrair as luzes do palco para si. Pode até ser que a fama possa ser uma ótima ocasião de evangelizar, de levar as pessoas para Deus, de atingir a muito com a força salvadora do Evangelho. Porém, se apegos a ela. "O Senhor nos chamou não para ser um sucesso, mas para sermos fiéis", disse a Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá.
Sim, servidores! "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38), disse a Rainha-Serva. "Fazei tudo o que ele vos disser" (Jo 2, 5), disse a soberana aos servos, nas bodas de Caná. Aliás, só os servos contemplarão o mistério de Deus e força de seus milagres. "Estou no meio de vós como aquele que serve" (Lc 22, 27) disse o Soberano Senhor, e, lavando os pés dos discípulos, deu o exemplo para que seus seguidores fizessem o mesmo. Relata-nos João (cap. 13 do seu evangelho:
13 Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros.
15 Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 Em verdade, em verdade vos digo: Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes
Sabe Filoteu, desejo-te tanta humildade e desapego de todas as honras e vaidades desta terra, para que sejas um servidor, um alguém que busca estar de joelhos sempre para adorar a Trindade Santa e lavar os pés dos irmãos com teu serviço.
Abençoe-te Aquele que foi servo por amor.
