"Mas aqui nesta casa do Senhor, solidão, não existe não". Esse trecho da música do Pe. Zezinho embalou minha infância e juventude. Sei lá, quantas vezes ouvi essa música e sempre pensei o que é ser só ou sentir solidão. Existe uma solidão ruim, aquela dos individualistas ou dos que, em sua soberba ou egoísmo se bastam, ou acham que os outros são supérfluos, ou são importantes na medida em que são úteis. Caso contrário, são descartáveis!
Aí creio existir uma solidão ruim. Deus não entra, pois Ele é o grande Outro. Além disso, os outros também não contam. Um alguém centrado em si mesmo vive uma falência desse tipo. As vezes nem acha que é só, mas no fundo, o vazio está lá. Pior ainda é quando a pessoa vive dopada de si, das coisas, de suas seguranças e certezas ao ponto de achar que os outros realmente não contam. Daí que, não se sente só.
Há uma solidão boa! Aquela em que a pessoa cria espaços de deserto e silêncio para estar com Deus, ouvir sua voz e experimentar daquela felicidade que só sabe quem tem. E saindo dessa bem-aventurada solidão a pessoa sente uma irresistível necessidade de um encontro com os outros. Um encontro rico de sentido, de plenitude, cheio de qualidade. Aquilo que a Bem aventurada Elisabete da Trindade chamava de "Estar só com o Só", bem, isso nos ajuda a sermos presença na vida dos outros de forma construtiva, positiva, propositiva e nunca impositiva. O amor de Deus constrangerá através de seus amigos que o contemplaram no silencio solitário da oração a todos os que resistem ao seu poder e beleza.
Solidão! Quem a sente? Quem não busca o eterno e o infinito com certeza experimentará o grande oco! Os vazios existenciais são implacáveis, a inquietude humana não tem limites. O homem é insaciável e por isso o que passa não pode bastar. Sim, sentirá solidão quem não se abastesse de infinito, quem não vive de eternidade e na perspectiva da eternidade. A vida e a morte se transformam em uma fugaz passagem a que se apegar. Mas, simplesmente escorrem como areia entre os dedos abertos, para desespero de alguns, de tantos, de muitos?!?. Não há como viver do que é simplemente provisório, circunstancial. Claro, é possível alienar-se dessa vida interior, tentar abafá-la, não ouvir seus gritos, seus apelos ou aquele fio de voz. É possível deixar a consciência cega, surda, calejada no mal. Mas, não há como matar tudo isso, não dá como não viver as responsabilidades que tanta riqueza comporta. Sim, o livre-arbítrio das pessoas podem levá-las à loucura, ao desespero, ao descaso, à rejeição total e definitiva do eterno. Só que o Eterno nos envolve e nos espera, nos alcança e selará definitivamente nossas escolhas quando deixamos a história, onde não estaremos no tempo e no espaço. Quando a peregrinação for concluída, então o que escolhemos nos levará a um destino que não tem mais retorno. Ou para a vida eterna ou para o lixo da eternidade.
Faz pensar!
Abraço e bênção para Ti, Filoteu!