sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Ponto final ou reticências?
A liturgia da Igreja, na medida em que o ano liturgia finda, vai nos levando pouco a pouco a ler textos bíblicos que nos falam que tudo vai passar. Haverá um fim em tudo, haverá um ponto final na caminhada terrena das pessoas também. Tudo nasce, vive e morre. É um fato! As pessoas hoje em dia, em função de tantos recursos que a ciência tem descoberto para alongar e dar qualidade na vida de todos (ou pelo menos de várias pessoas) nem querem pensar na finitude. Não querem pensar na morte. Afugentam esse assunto como se ele exigisse um exorcismo. Parece até um palavrão e uma desgraça sem fim, um demônio que ronda.
Para quem morrer é uma desgraça sem fim? Ora, para todos aqueles que acham que viver é só estar neste mundo. Vivem muito, intensamente, mergulham no agora, mas no ritmo de um aqui e agora a que se apegar. Agarram-se a pessoas, coisas, projetos, sonhos, instituições como se isso fosse o caminho para ser feliz. Como se fossem meios da felicidade (no caso das coisas, projetos, sonhos e instituições) e potenciais facilitadores da felicidade (no caso das pessoas). Mas, um dia a morte haverá de dar um ponto final em tudo isso. Será um ponto final? Será um basta?
A vida está cheia de sentido, há sim, isso ela está. Na beleza do que existe, nas potencialidades das pessoas, na ordem e beleza da criação, nessa inquietude em ser feliz que cutuca e provoca os corações humanos, em tudo isso há um apelo, há um grito desejoso de felicidade, há um leão faminto adormentado que quer ser acordado. Quem o despertará? Há uma indagação, uma pergunta. E aí? E depois? Para onde vamos? Sim, queremos ser felizes! Mas, como ser feliz com o que passa? Como ser feliz com o que não realiza 100%? Qual o sentido de viver? E a morte, esse ponto final, essa estraga prazer? Olha que essas perguntas nos jogam dentro de um poço em que é preciso escavar, cavar e ir a fundo para sentir a saudade do eterno, de tudo o que permanece para sempre. O ser humano, mergulhado no limite, aspira romper barreiras. Quais drogas ou distrações deixam o leão da saudade de Deus dormindo ou dopado? E o mundo está mais que nunca cheio de drogas e soníferos para esse leão!
Ora, a saudade do eterno está presente na vida do peregrino que vai, que segue, que não para na beleza ou no fascínio da paisagem. A vida está, com certeza no que se encontra no caminho, mas tem dentro dela um dinamismo, uma força que exige que se dê passos. Não dá pra parar. Não dá pra viver como se a caminhada não desse em nada. Não estamos pulando, mas andando. Aguarda-nos o que nos supera, que nos preenche, que nos deixa cheios da mais refinada e plena felicidade. Mas, é preciso caminhar. Qual o caminho? Na medida que se dá passos o caminho aparece. Busca-se o caminho, mas o caminho também nos busca. Então, deixar-se encontar e partir para o encontro, eis o segredo desse achar-se e deixar-se achar. O caminho é quem nos eterniza e nos faz vencer o limite para atravessar a fronteira da morte. Para tanto, é preciso morrer? Mas, o que é morrer? Para quem se apega à beleza da paisagem, morrer é não caminhar, pois a vida está no que se encontra no caminho. Estes vivem agarrados às árvores, se deleitam com o canto dos pássaros, vivem dentro dos riachos. Mas a noite virá! E a paisagem passará... e quem a ela se apegar, esse não se eternizará.
O fim do caminho! Penso que o cristão não deve estar preocupado, mas ocupado. Não deve estar distraído, mas a concentrado, não deve estar parado, mas a caminho. O cristão não é alguém que perdeu o sentido do passado, pois suas raízes estão bem fincadas na sua história marcada pela ação de Deus, uma história de salvação, marcada pela reconciliação. Não é um alguém agarrado ao presente como se fosse o único bem, mas vive o agora como uma dádiva, um sacramento, um instrumento para encontrar o presente do presente que é a eternidade. O cristão não teme o futuro, nem o projeta demasiadamente pois crê na Providência do Pai, pois aspira sem cessar o Céu, sem deixar de assumir o seu papel de construir a cidade terrena, semeando o Evangelho, o bem e a verdade. O cristão vive a história, no tempo e no espaço, na viva tensão pela eternidade. Por isso, haverá de gravitar em torno desse grande bem que é a Santíssima Trindade e para Ela viverá e nela se realizará. Desta feita, a morte não é ponto final, mas reticências, não é um fim, mas uma passagem, não é morte mas vida naquele que ressuscitou e glorioso está junto do Pai. Eis aí a beleza pura, sem mistura que na vida haverá de contemplar quem o caminho caminhar.
Um abraço para ti, Filoteu!
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