Caro Filoteu!
Festa grande em Jerusalém! O Rei entra montado em um jumentinho para se cumprir os dizeres do profeta Zacarias:
Dizei à Filha de Sião:E, conta o evangelista, os filhos dos hebreus, ou seja, "numerosa multidão estendia suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pelo caminho" (Mt 21, 6). Reflito contigo nesta entrada cheia de glória, neste triunfal cortejo. Quem eram as pessoas que aclamavam com tanta vibração ao Senhor? Uma numerosa multidão. Sabe, Filoteu, sempre achei que a multidão nos remete muito à idéia de tanta gente que tem os interesses mais diversos. Tem tanta gente de modo a parecer um grupo de anônimos. E não poucos estão atrás de bonitos discursos, festa, um pouco de oba-oba, milagres, resolver problemas. Claro, não é meu intento dizer que ali não tenha estado gente com vontade de se encontrar com Cristo e dar-lhe o devido louvor, prestar-lhe as mais sinceras homenagens pois Ele merece. A bíblia nos relata que por um lado tem gente dizendo "Hosana ao Filho de Davi!" (Mt 21, 9), por outro lado e mais na frente, as multidões foram persuadidas pelos chefes dos sacerdotes e anciãos para gritar pedindo a condenação de Jesus. "Seja crucificado" (Mt 27, 22), todos responderam a Pôncio Pilatos.
eis que o teu rei vem a ti,
manso e montado em um jumento,
em um jumentinho filho de jumenta (Mt 21, 5; Zc 9, 9)
Nossa vida não raro, se não cuidarmos bem, pode assemelhar-se a esta contradição. Se não formos discípulos amados, gente que vive na intimidade e no desejo sério de fazer a vontade do Mestre e aprender constantemente com Ele, podemos desabar nessa contradição venenosa. Por um lado, o louvor de Deus na liturgia ou em algumas boas ações dos mais diversos tipos e por outro a condenação do Senhor por meio dos pecados, sobretudo aqueles cometidos de forma deliberada, com livre consentimento, fruto de uma consciência endurecida ou em processo perigoso de surdez e cegueira. Todo cuidado é pouco para que não sejamos anôminos membros de uma multidão, talvez, nos tornemos um grupo de interesseiros, indo atrás de Jesus em função de alguns vantagens, mas negando-O de tantas formas. Não é pra cultivar nenhum pânico ou ficar impressionado, nem muito menos com complexos de culpa que talvez não gerem bons frutos. A questão é olhar o Senhor Jesus na cara e perguntar que tipo de relacionamento estamos vivendo com Ele. Só isso! e..., isso não é pouco! Importa ver o que pode e deve ser mudado. Sigamos os passos de uma Madalena, de um João, de um Pedro e outra gente boa por aí que deu conta do recado e viveu uma amizade com Nosso Senhor, apesar das fraquezas pessoais que cada um tinha.
Uma vez pensei no que Dom Helder Câmara, de santa memória, disse uma
certa vez em que era muito aplaudido em um lugar onde entrava para fazer uma palestra. Dizia ele: "Sabe, Jesus, esses aplausos, são todos para você. Eu quero ser apenas o jumentinho que te lava para Jerusalém". Claro, é uma metáfora, mas bastante interessante. Ao Senhor a glória! E nós os portadores, humildes transportadores d'Aquele que merece todo louvor e toda glória e poder.
Que tal? Pensaste nisso, Filoteu?
Deixo-te com as belas palavras de Santo André de Creta, um bispo que viveu no século VIII:
"Vinde, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontroFeliz semana santa para ti, Filoteu! Acompanha o Divino padecente até Jerusalém e morre com Ele para com Ele ressuscitar.
de Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério de nossa salvação. (...). Acompanhemos o Senhor que corre apressadamente para a sua Paixão e imitemos os que foram ao seu encontro. Não para estendermos à sua frente, no caminho, ramos de oliveira e de palma, tapetes ou mantos, mas para nos prostrarmos a seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que se aproxima, e acolhermos aquele Deus que se aproxima, e acolhermos aquele Deus que lugar algum pode conter. (...) Portanto, em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perder o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo. Revestidos de sua graça, ou melhor revestidosde dele próprio (...) prostremo-nos a seus pés como ramos estendidos".
Um abraço e bênção!