A oração é o grande tema desta terça-feira de quaresma. Trata-se de um diálogo com o Pai. Jesus, Filho de Deus, que é Deus com o Altíssimo, nos ensina a falar com esse mesmo Pai, fonte e origem de tudo, Pai provedor amigo dos seus filhos. E isso é tão importante que podemos dizer que a oração é a respiração da vida interior. Claro, entende bem: não podemos estar rezando e conversando com Deus o tempo todo. Várias ocupações não permitem, por várias razões: exigem concentração, exigem uma dedicação mental bastante específica (um estudo, escutar alguém, etc). Outras talvez até permitam (um trabalho manual, uma viagem, uma caminhada, etc). No entanto, fazer uma breve oração, oferecer as intenções de agradar a Deus e estar em sua vontade, pensar frequentemente nele e buscar conhecê-lo, anunciá-lo, bem, isso nunca deixará de ser oração, uma prece cheia de vida, um oxigênio para a alma. Suponho, no entanto, que haja alguns momentos fortes de oração, de um parar diante da Majestade Divina, ouvir o Senhor na meditação de sua Palavra santa. O acordar e o preparar-se para dormir, além de outros momentos, ou alguns outros momentos, deveriam ser momentos fortes para incrementar e manter os fornos da vida interior devidamente aquecidos.
E Jesus, no Evangelho de hoje, diz que não se deve rezar como rezam os pagãos. De fato, estes rezam multiplicando as palavras, achando que assim serão escutados (veja o texto todo em Mt 6, 7-15). Imaginar que haja uma oração que seja pagã, essa é meio pra quebrar a cabeça pra entender. Pois é! O pior é que existe! Os cristãos devem até mesmo estar atentos para não fazer da oração um meio para dobrar Deus e fazê-lo um mero cumpridor da vontade ou dos caprichos ou mesmo dos bons projetos dos seus servos e filhos. Isso! Yes! Não dá pra tentar dobrar Deus. Ele é o totalmente Outro. Não somos chamados a nos relacionar com o Senhor tentando dobrá-lo para Ele fazer o que queremos.
Deus sabe do que necessitam os seus filhos. Por isso, ao rezar, o diálogo com Deus deve ser confiante, respeitoso, amoroso. Claro, pode-se pedir o que se deseja, mas é preciso entender ou abrir-se ao fato que quanto mais progredimos nessa amizade com o Todo Poderoso, tanto mais passamos a buscar mais sua vontade que propriamente nossas comodidades ou até mesmo algumas legítimas aspirações ou santos desejos. Será o melhor? Quem mais que o próprio Deus saberá qual seja o melhor para seus filhos?
Por isso, Filoteu, quando estiveres em oração, lembra-te do grande dom que o Pai do Céu te concede. Conversar com Deus! Nada mal, tudo de bom. Se é chique conversar com a Rainha da Inglaterra, ou com o Papa, ou com o Obama, ou com outros personagens ilustres da cena política, social, econômica ou religiosa, que será conversar com Deus? E mais: Deus está sempre disponível! Sempre! Escuta-nos, envolve-nos e faz-nos experimentar, de um jeito ou de outra o seu amor que é comunicação e comunhão. Por ser invisível, não é menos real! Entretanto, é preciso relacionar-se com Ele na liberdade, sem pôr condições ou impor limites ou criar expectativas como que Sua Majestade tenha que atender ou satisfazê-los. E se Ele "demorar" a te atender, entende uma coisa: a pressa é d'Ele e ele nunca se atrasa, nem se adianta, pois o tempo é dele pois Ele é eterno e também dono da eternidade. O período da espera é uma ótica ocasião para crescer, amadurecer, alimentar e robustecer a fé, a caridade, a esperança. E se Ele não der o que pedires, fica certo: estás sempre no lucro, pois Aquele que, tudo sabe e pode, te dará o que for melhor para seres o que deves ser.
No Pai-Nosso, Ele nos ensina a pedir o essencial, pois quem vive do essencial não se perde no acessório, no instrumental, não se embaça, não desperdiça energia, nem se engancha nas coisas secundárias. Nem muito menos se perde com bobagens, vaidades e até mesmo coisas que são nocivas para a felicidade n'Ele e segundo sua vontade. O Reino, a realização da divina vontade, reconhecer Deus como santo, suplicar para que não nos falte o necessário e o que for útil para a salvação, o perdão generoso e constante, a coragem de vencer a tentação e crescer. Em uma frase, pede-se que Deus seja Deus e nós nos dispomos a acolher essa libertadora verdade.
E aí? Reza o Pai-nosso e reza como Jesus rezou e nos ensinou a rezar. Afinal, a oração, diálogo com Deus, amizade com Ele, é antes de tudo deixar-se amar para transbordar esse amor!
Um abraço e bênção!