"A solidez e a firmeza da verdade de Cristo se enche de doçura da doação de um Deus que é só Amor!”
(Pe Marcos Chagas)

sábado, 6 de abril de 2013

Tomé e sua falta de fé e a bem-aventurança de última hora

1 comentários


Oi Filoteu


Depois de ter se revelado aos discípulos de Emaús, às mulheres, depois das evidências do sepulcro vazio (fato constatado por João e Pedro), o evangelho deste domingo "in albis", domingo da misericórdia no põe diante dos discípulos todos reunidos. Tomé teve um tratamento, digamos, mais personalizado.

Lá estavam os pobres discípulos com medo. Medo! Mecanismo de defesa que até pode ser útil em algumas situações. Não ter medo de nada é perigoso. A pessoa que de nada tem medo corre riscos grandes e pode morrer mais cedo que se pensa ou que se "deveria"! Bom, algumas coisas exigem, no entanto, que sejamos capazes de dar nome aos medos, saibamos superá-los para que não sejamos paralisados por eles. Quais os medos que devemos superar, vencer e não sermos reféns deles? Ora, vários! Um deles, aliás, o mais importante, é o medo de Deus, de sua vontade, em suma de se entregar a Ele incondicional e radicalmente. Os discípulos estavam amedrontados e chocados, acabrunhados, intimidados, sentiam-se inseguros e órfão, depois do "escândalo da cruz", daquele aparente fracasso. As evidências da ressurreição ainda não eram convincentes. Assim sendo, o efeito imediado era manter as portas fechadas. Sintomático! Fechar as portas indica um busca de proteção. Insegurança no ar, ante uma atmosfera pesada e asfixiante de riscos de perseguição e morte. Além disso, se fizeram isso com o Mestre, crucificando-O barbaramente, então, que não fariam com os pobres discípulos seus? E note-se que o mestre sabia sair-se bem nos debates com as autoridades religiosas que lhe faziam oposição e criavam situações ardilosas de todo naipe para confundi-LO e deixá-LO em maus lençóis. Com se não bastasse, acrescente-se que os milagres foram feitos convincentes e surpreendentes: curas de cegos, coxos, paralíticos e até mesmo ressurreição de mortos. Mesmo assim, o desfecho cruel parecia paralisar os discípulos que pensavam lançar-se em uma aventura segura, em um mar sem ondas e sem ventos para navegar. Mas, a tempestade parecia ter levado tudo ao naufrágio. Afinal, com um Mestre poderoso em palavras e obras como foi o caso de Jesus de Nazaré! Como suportar tal fim?

Medo! Portas fechadas! Tantas vezes foi assim que aconteceu com tantos cristãos. Comigo, contigo, caro Filoteu! Mas, é preciso dar um passo à frente. É preciso coragem para não fechar as portas. Hoje, ante as evidências da ressurreição, as portas podem e devem permanecer bem abertas, nunca fechadas para Jesus. No caso dos discípulos Jesus atravessou as portas fechadas.  Acho que era preciso. No estado em que se encontravam, não abririam as portas nunca. Afinal, tão amedrontados estavam os discípulos que tudo e todos eram suspeitos. Hoje não há razões para levantar suspeitas. Ou ainda há? No curso da história, tanta coisa aconteceu e muito gente não acolheu as verdades profundas da ressurreição. Não há liberdade genuína quando não há dedicação e busca da verdade. E a verdade, longe de ser, apenas fatos ou evidências não confutáveis, é uma pessoa, é Cristo! 

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14, 6). 

E então? o encontro se seguiu, o encontro aconteceu. Jesus se dirige com uma saudação profundamente significativa: "A paz esteja convosco" (Jo 20, 19). A paz é mais que ausência de conflito, ou de guerra. A paz é plenitude, é comunhão, partilha, viver uma interação na plataforma da sobrenaturalidade da fé. Nos atos dos apóstolos, narra-se que 

Crescia sempre mais o número dos que aderiam ao Senhor pela fé (At 5, 14).

Não é uma questão de visão, não é uma questão de pegar, ver, tocar, em suma, estacionar nos sinais, ou milagres. É aderir, acolher, comprometer-se. Jesus mostrou aos discípulos as mãos e o lado, as chagas benditas, janelas abertas para acolher o derramamento abundante das graças, bênçãos, luzes e infinitas cascatas do amor misericordioso de Jesus. Claro, os discípulos só podiam alegrar-se por verem o Senhor. Recebem o envio missionário: "Como o Pai me enviou, também eu vos envio" (Jo 20, 21). Deu a entender que a missão dele continua na nossa missão, ou seja, nossa missão é na verdade a missão dele. Ele age através de nós e em nós, por nós. Se formo-lhes fieis, com certeza, a graça divina fará o resto, seremos instrumentos, canais, pontos de passagem, pontes para facilitarmos os meios para o encontro de Jesus e suas poderosas graças com cada homem e cada mulher que de tais graças tanto necessitam. A vida missionária acontece na força, no poder deste envio, sustentado, tendo o Espírito de Deus, o Paráclito como alma e vida da evangelização. Ele dá a unção e o evangelizador entra como colaborador, parceiro visível deste grande maestro e guia invisível. "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20, 22). Um envio que perdoa pecados. Confiada aos discípulos-apóstolos, a missão de perdoar pecados é mediação poderosa, uma atribuição exclusivamente divina, tem homens frágeis como ministros. Ministrar uma paz que leva ao perdão.

Tomé, no entanto, ocupa um lugar privilegiado na cena. Sua incredulidade parece incorrigível. Ante o testemunho carregado da mais genuína alegria pascal: "Vimos o Senhor" (Jo 20, 25), o desconfiado discípulo não se rende. Quer evidências, quer provas. O "trauma da cruz" endureceu o seu coração, o fez indiferente. Pois bem, Jesus vai ao encontro do descrente o faz experimentar o poder de sua ressurreição. As chagas gloriosas serão tocadas e transmitirão a paz, a confiança. Tomé receberá uma voltagem poderosíssima de um choque decisivo na sua vida: o choque da ressurreição! Não será o mesmo. 



"Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. estende tua mão e colocá-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel" (Jo 20, 27).

Uma carga que sobrecarregou aquele coração gelado do mais ardente fogo de um amor divino, imenso, sem fim. O gelo derrete, a dureza dá lugar à docilidade. São evidências de luz, de uma paz que o mundo não consegue dar. No encontro com o Ressuscitado, Tomé desconfiado retomou a fé. As feridas gloriosas daquele que vive, curou as chagas da falta de fé do discípulo incrédulo. A proclamação de fé, após o encontro pessoal com Jesus é emblemática: "Meu Senhor e meu Deus" (Jo 20, 28). Uma proclamação na divindade do Mestre. Entretanto, como nos ilustra São Gregório Magno, a incredulidade do apóstolo nos foi útil, certamente. Na última hora, arrancou dos lábios do Salvador uma última bem aventurança:

"Acreditaste porque  me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto" (Jo 20, 29)

Sabe, Filoteu, não somos chamados a seguir Jesus em meio a visões ou em meio a uma vida cheia de coisas notáveis ou extraordinárias. Nada disso, a não ser que o Senhor queira fazer alguém dos seus discípulos enveredar por este caminho, dando graças místicas particulares e dons carismáticos não comuns. Fora isso, devemos caminhar humildemente sob o divino olhar, sem querer nada a não ser aquilo que Ele deseja de nós, nas pequenas coisas, numa fidelidade cotidiana que vai dando as bases de uma perseverança madura, consistente. Fé! É isso que importa no relacionamento com Deus. "Sem fé é impossível agradar-lhe" (Hb 11, 6). 

Que esse choque da ressurreição faça sua obra em tua vida também, caro Filoteu de Betânia!

Abraço e bênção do padre. 

One Response so far

  1. É verdade Padre! Realmente Deus, hoje, se manifesta no "silêncio", naquilo que não faz tanto barulho, Ele nos fala de seu MIstério e está presente onde menos imaginamos. O Ressuscitato continua se manifestando nos momentos e maneiras mais inesperadas, e está nos surpreendendendo cada dia maiis! Sejamos também nós discretos anunciadores da Ressureição do Nosso Senhor Jesus Cristo, a anunciadores da esperança e do amor que vence todo mal.

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