"A solidez e a firmeza da verdade de Cristo se enche de doçura da doação de um Deus que é só Amor!”
(Pe Marcos Chagas)

domingo, 3 de fevereiro de 2013

"Não é este o filho de José?" (Lc 4, 22)

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Oi Filoteu!

  Dá o que falar: Jesus entra na sinagoga e fala abertamente a todos os presentes que o trecho do profeta Isaías, relativo ao Messias tão esperado que havia de vir, diz respeito a Ele. O profeta afirma, citado por Lucas (ver Is 61, 1-2;  Lc 4, 18-19):
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me conferiu a unção; a anunciar a boa-nova aos pobres me enviou, a anunciar a libertação aos cativos e o dom da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a promulgar um ano de graça da parte do Senhor
Imagino os cochichos. As perguntas saltaram com grande força naquelas mentes, todos profundamente surpresos com o pobre carpinteiro de dizendo Messias! A surpresa transformada em revolta e indignação gerou uma indagação:
Não é este o filho de José? (Lc 4, 22)
Não era possível que um simples carpinteiro fosse o escolhido de Adonai para salvar o povo escolhido. Aliás, a salvação que esse povo esperava estava a distâncias incontáveis daquilo que Deus estava preparando. De fato, esperava-se um messias político, um poderoso libertador que viesse arrancar da dominação romana aquela gente eleita por várias promessas e pela memória dos feitos do passado quando o Todo Poderoso salvou do Egito aquela gente escrava, em fidelidade à promessas ao grande patriarca Abraão. Era demais, portanto, que um simples filho de carpinteiro tivesse essa pretenção; ainda mais da cidade deles (um lugarejo pequeno e inexpressivo). Se ao menos tivesse vindo de Jerusalém! Ou quem sabe, viesse até de cidades mais vistosas do império romano (Alexandria, Roma, Antioquia, etc)!!!!
Bem, é bem verdade que essa gente ficou estacionada nas aparências. Se tivessem lido o que o profeta Isaías fala do Eleito de Iahweh, apresentando-o como homem das dores, quem sabe, teriam repensado certas mentalidades de grandeza (ver Is 50, 4ss). Parece mesmo, ou melhor, é coisa certa, aliás, certíssima, que Deus vai na contra-mão de tantas mentalidades humanas. Ainda o profeta Isaías nos ajuda:
Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem o vosso proceder é como o meu, afirma o Senhor. Quanto o céu supera em elevação a terra, tanto eleva-se o meu proceder acima do vosso, os meus pensamentos acima dos vossos" (Is 55, 9)
Imaginar que Deus escolhe os menores, os pequenos, os mais humildes, com certeza nos coloca na contra-mão de toda a mania de grandeza que pode se alicerçar na cabeça humana. E parece até que o problema se repete, ou até aumenta, quanto mais a capacidade humana se agiganta na criatividade, no conhecimento e no domínio de tecnologias cada vez mais sofisticadas e eficazes para enfrentar os problemas e aumentar a qualidade da vida humana. Não que o desenvolvimento humano seja um problema, mas torna-se um problema quando ele faz do homem um deus para se mesmo, auto-suficiente, presunçoso e orgulhoso. Pois bem, Jesus, o Verbo eterno do Pai, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro e Luz da Luz, gerado, não criado, consubstancial ao Pai, Ele mesmo, foi o Messias pobre, humilde. Ele, o filho adotivo do carpinteiro, é o ungido do Pai.
Sabe Filoteu, esse evangelho despedaça nossas visões megalomaníacas, ou seja, as velhas manias de grandeza e horror ao último lugar, ao serviço e ao escondimento. Essa mania de pobreza que o Filho de Deus tem é um caminho novo, exigente, de absoluta liberdade. É preciso não se prender nas aparências. O apóstolo Paulo afirma:
Mas, o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte (1Cor 1, 27).
Ora, isso se aplica aos Senhor Jesus! Não é problema que ele tenha sido chamado filho de José! Aliás, um grande santo e patriarca. Humilde carpinteiro e chefe da casa onde habitou a família mais santa e mais feliz que já passou por este mundo. Um servo de Deus, totalmente posto a serviço de Quem o elegeu e escolheu para ajudar no processo de crescimento do Verbo Eterno e dar-lhe uma paternidade legal. O problema é estacionar aí! Jesus não pode ser compreendido tão somente em suas aparências humanas. Por isso, é preciso ter uma visão de fé, uma fé que vem de Deus, que se robustece e se esclarece na meditação das Sagradas Escrituras e na doutrina de sua Igreja. 
Cabe uma aplicação concreta hoje quando falamos das autoridades e pessoas ungidas que Deus põe à nossa frente para nos pastorear em seu nome. Quanto risco de fazer uma leitura meramente humana. Mas, essa pessoa, nós a conhecemos, sabemos de seus defeitos e pecados, alguém poderia argumentar. Aqui mora o perigo! Não ver o que Deus pode e quer fazer através das mediações que Ele mesmo escolheu e pôs em nossas vidas para nos fazer entrar nos seus desígnios. Ele deseja a nossa obediência e docilidade. A história da Igreja está a comprovar e continua comprovando que todos quantos quiseram viver a partir de seus próprios projetos ou idéias, todos os que desprezaram as mediações que Deus pôs em suas vidas, acabaram fracassando ou mergulhando  na mediocridade. Excluíram-se do projeto de Deus! Os que mais ajudaram a Igreja progredir e prosperar não foram necessariamente os mais brilhantes e competentes, os eficientes e empreendedores, mas os santos. E não há entre os santos gente que não tenha se submetido com humildade, com generosidade e sincero desejo de fazer a vontade de Deus. E a vontade de Deus se acolhe e se descobre numa caminhada de fé, pois como diz o autor da carta aos hebreus, "Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11, 6). O próprio Jesus, cheio do Espírito de Deus louva ao Pai pelos pequenos e humildes, por terem sido eles os escolhidos:
"Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11, 25).
Deus não escolhe os melhores, necessariamente e por isso, é preciso ultrapassar a barreira dos limites humanos e ver Deus agindo, operando, guiando, santificando. São José foi o mais pobre dos três lá da casa de Nazaré, pois era o único que tinha o pecado original. Mas, foi o escolhido pelo Pai para ser o chefe, diga-se de passagem, da mais alta elite do cristianismo: Nada menos que Jesus Cristo e sua Santa Mãe, a Virgem Maria, ambos sem pecado!!!! E Jesus encontrou também mediações que o Pai pôs em sua vida que é de tremer; Pôncio Pilatos, um governador pragmático e Herodes, um sem escrúpulos. Que foram mediações, disso não há que duvidar. Mas, através deles (a paixão e morte de Jesus não foi uma mera fatalidade histórica!!!) Jesus foi crucificado e morto, salvando a humanidade. Quem faz uma leitura superficial ficará parado nos conchavos políticos e coisas do gênero!
Entenda-se uma coisa: não se entenda, com tudo isso, que somos meros e passivos consumidores dos acontecimentos. Não significa que as portas do diálogo estão fechadas e que não possamos manifestar nossos pontos de vista, anseios e desejos, perplexidades e limites ante as autoridades constituídas de nos conduzir no Senhor. Mas, que a última palavra a eles pertence, tal é fundamental para que estejamos na vontade de Deus. Disso não há como duvidar ou questionar. 
E aí?!?! Será que essa Palavra iluminará a nossa forma de olhar para as pessoas, para os acontecimentos, para as estruturas? Será que as pessoas eleitas e ungidas por Deus para nos conduzir podem nos ajudar neste processo de sermos inseridos nos planos do Pai? Sabe, caro Filoteu, se amarmos o Senhor tudo irá bem! Até mesmo o que parece um fator negativo, pode, no nosso amor por Jesus e sincero desejo e esforço de fazer a vontade do Pai, transformar-se em fonte de bênçãos e graças. Afinal, bem afirmou o apóstolo:
Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus (Rm 8, 28).
Um abraço e bênção!



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