O papa Bento XVI fez uma análise tão interessante do evangelho de hoje que resolvi transcrevê-lo. Espero que o pensamento do Pontífice te seja útil.
O Evangelho deste Domingo do Advento apresenta novamente a figura de João Batista, e o retrata enquanto fala para a multidão que se reúne com ele no Rio Jordão para fazer-se batizar. Porque João com palavras fortes, exorta todos a se prepararem para a vinda do Messias, alguns lhe perguntam: “o que devemos fazer?" (Lc 3,10.12.14). Esses diálogos são muito interessantes e se revelam de grande atualidade.A primeira resposta é dada ao público em geral. O Batista diz: "Quem tem duas túnicas, dê uma a quem não tem, e quem tem o que comer, faça o mesmo” (v. 11). Aqui podemos ver um critério de justiça, animado pela caridade. A justiça pede que se supere o desequilíbrio entre quem tem o supérfluo e quem falta o necessário; a caridade empurra a estar atento ao outro e ir ao encontro da sua necessidade, em vez de encontrar justificação para defender os próprios interesses. Justiça e caridade não se opõem, mas ambos são necessários e se complementam. "O amor será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa", porque "sempre existirão situações de necessidade material nas quais é indispensável uma ajuda na linha de um concreto amor ao próximo” (Encíclica Deus caritas est, 28).E depois vemos a segunda resposta, que está dirigida a alguns “publicanos”, ou seja, cobradores de impostos para os Romanos. Já por isso os publicanos eram desprezados, e também porque muitas vezes aproveitavam da sua situação para roubar. O Batista não lhes diz para mudarem de trabalho, mas para não exigirem nada a mais do que está definido (cfr v. 13). O profeta, em nome de Deus, não pede gestos excepcionais, mas cumprimento honesto do próprio dever. O primeiro passo para a vida eterna é sempre guardar os mandamentos, neste caso o sétimo: "Não furtarás" (cf. Êx 20, 15).A terceira resposta é sobre os soldados, outra categoria dotada de um certo poder, e portanto tentada de abusá-lo. Aos soldados João diz: “Não maltratar e não extorquir nada de ninguém; acontentai-vos com a vossa paga” (v. 14). Também aqui, a conversão começa pela honestidade e pelo respeito aos outros: uma indicação que se aplica a todos, especialmente para aqueles que tem maiores responsabilidades.Considerando estes diálogos no conjunto, chama a atenção a grande concretude das palavras de João: sabendo que Deus nos julgará segundo as nossas obras, é ali, no comportamento, que é necessário demonstrar o seguimento da sua vontade. E justo por isso as indicações do Batista são sempre atuais: também no nosso mundo tão complexo, as coisas seriam muito melhor se cada um observasse estas regras de conduta. Peçamos então ao Senhor, por intercessão de Maria Santíssima, para que nos ajude a preparar-nos para o Natal levando bons frutos de conversão (cf. Lc 3, 8).
Fiquei feliz em ler no texto uma afirmação do Batista que vale à pena refletir: Todos, no íntimo (não chegaram a expressar, ao menos na versão de Lucas) que João seria o Messias. Efetivamente, João "reconhece o que é e afirma o que não é" como dizia Santo Agostinho. Ele não é o Messias. Parece algo tão descontado! Parece óbvio que o Messias é Cristo e nós somos o que somos no serviço do Senhor. Mas, na prática, nas entrelinhas, em coisas simples, talvez até pouco conscientes, se a gente cochilar, se cada um de nós não vigiar atentamente, lá estamos nós tentando salvar as pessoas, resolver tudo e achar que todos precisam de nós ou somos um tanto, digamos, indispensáveis. Sabe, caro Filoteu, Deus nos livre de tanta mentira e ilusão. Deus nos livre que ocupemos o lugar que é só de Jesus, tentando burramente ser redentor dos outros ou mesmo ocupar o lugar do próprio diabo, afastando as pessoas de Jesus, levando-as a pecar.

Afirmo estas coisas, caro Filoteu, confiando na graça do Senhor que é maior que nossas fraquezas. Que a verdade divina nos liberte de tantas mentiras e ilusões.
Um abraço pra você e uma bênção também!