O Evangelho deste domingo, ontem (a partir da data desta postagem) nos colocou o tema da necessidade de ser como as crianças para ter entrada no Reino dos Céus. Diz Jesus:
Apresentaram-lhe então crianaças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam. Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: "Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham. Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará. Em seguida, ele as abençoou, impondo-lhes as mãos (Mc 10, 13-16).
Essa palavra precisa ser bem entendida e é preciso compreender o contexto que envolvia a compreensão sobre as crianças, no tempo de Jesus. De fato, a mentalidade da época é que as crianças não eram objeto de atenção e de cuidados, mas de menosprezo religioso. Antes da puberdade, não sabendo observar a Lei, ela é julgada incapaz para qualquer obra boa. Para Jesus, no entanto, a criança é símbolo do homem perante Deus. A criança acolhe os presentes sem pensar que precisa pagar pelo que recebeu. Intui e de algum modo assimila bem a lei da gratuidade. Ela não fica pensando se merece o presente de seu pai. Simplesmente se alegra e faz festa e usa o dom recebido. A alegria e a gratidão é a única resposta da criança ao presente. E ela o mostrará a todos, sem disfarçar a sua alegria. O cristão deve estar diante de Deus desarmado, sem máscara, sem cálculos, mas aberto, pobre e feliz como uma criança, sabendo que o Pai quer nos presentear com o seu Reino por pura bondade.
Santa Teresinha do Menino Jesus tem uma página (entre as várias que escreveu sobre o assunto do qual é doutora), em que, ao escrever para seu irmão espiritual, Pe. Bellière, assim se expressa:
Quando tiver chegado ao porto, vou ensinar-vos, irmão querido de minha alma, como deveis singrar no mar tempestuoso do mundo com o abandono e o amor de uma criança que sabe que seu Pai a quer bem e não poderia deixá-la sozinha na hora do perigo. Ah! Como gostaria de vos fazer compreender a ternura do Coração de Jesus, aquilo que ele espera de vós [...]. Entendi como nunca a que ponto a vossa alma é irmã da minha, pois é chamada a se elevar para Deus com o ELEVADOR do amor e não a subir a rude escada do temor.... (carta escrita em 18 de julho de 1897 ao Pe. Bellière).
Longe de ser uma postura passiva ou infantilóide, um assumir-se como um alguém irresponsável, o cristão, confiando em Deus, põe-se a buscar assumir o seu ser mais profundo e fazer em conformidade com esse ser. Não fica esperando tudo de graça do Céu, mas faz sua parte, faz o melhor que pode. E se não faz, tenta fazer. E se desistiu de fazer, passa a procurar fazer. A confiança caminha no mesmo passo que o compromisso da resposta amorosa e generosa.
Que este coração de criança pulse cheio de confiança em nossa vida e o Pai se alegre por sermos seus filhinhos simples e confiantes.
Um abraço para você Filoteu.