Caro Filoteu de Betânia!
Aproximam-se as eleições. Algumas propostas,... às vezes mais acusações e exposição dos erros dos adversários que propostas. Candidatos de todo jeito e qualidade. Tem gente séria, mas outros, não sei.... A competência e a retidão moral de alguns (ou de vários?) é duvidosa.
Em todo caso, abriram-se as cortinas e no palco da democracia os atores já estão em ação. As promessas se multiplicam, mas os eleitores ouvem desconfiados e muitos descrentes. Assunto polêmico esse da política. Entretanto, muito importante. Tema que nos diz respeito, pois o objetivo do estado é o bem comum, o bem de todos e não só o bem ou vantagens de um indivíduo, de um grupo econômico, de um partido, de uma classe social, de algumas empresas ou de alguns políticos que deveriam buscar o bem de todos. Não há somente políticos indignos pelo fato de desviarem verbas e não representarem o povo a contento.
Há também eleitores que não cumprem o seu papel na vida pública. Pois é! Ser reto, ser cristão, exercer a cidadania, ser honesto é também participar, se engajar, saber escolher e acompanhar os eleitos para serem gestores da administração pública e representantes do povo em sua gestão pública e legislativa. Receberam um mandato do povo e em seu nome exercem esse mandato. Será? Eleitor alienado, eleitor que vende voto, eleitor indiferente e desanimado: não assume seus deveres e direitos na democracia e, por isso mesmo, retarda ou ameaça a mudança que pode vir através de sua legítima participação democrática. Falta formação política no nosso povo. A corrupção ainda faz muitos e terríveis estragos porque, se por um lado há quem venda o voto é porque também do outro há quem compra. E quem compra o voto do tolo e iludido eleitor (se é que não não se trata de um eleitor de má fé), não estará comprometido com o bem de todos, mas saberá ter de volta o que gastou, tirando da saúde, da educação, da segurança, do saneamento, dos transportes, da urbanização, etc. Dá-se um jeito, ainda mais no Brasil que criou o tétrico termo "jeitinho brasileiro". Um país em franco desenvolvimento, mas penalizado pelas verbas desviadas por parte de políticos ladrões, sem escrúpulos, tantas vezes decididos em fazer o mal pela falta de fiscalização pública e pela impunidade. Aquele saco de cimento, aquela cesta de alimentos, aqueles cinquenta reais ou bem menos dão um miserável alívio para criar mais miséria e mais atraso.
Não é missão da Igreja Católica apontar candidatos nem defender programas de partidos. Não cabe aos pastores da Igreja apoiar nenhum candidato e nem muito menos serem eles candidatos. Não é papel do papa, dos bispos e dos padres apontar este ou aquele partido. Não apoiamos candidatos: nem ficha limpa nem muito menos ficha suja. Somos pastores de todos e não de um grupo, não de uma parte (daí vem a palavra partido). Cabe aos leigos (os que se sentem chamados e têm aptidão para tal) entrarem na política partidária e o façam com retidão, competência, espírito de missão. A Igreja é lugar de todos, casa de todos. Tem o papel de congregar, de unir, de criar comunhão e participação. Entretanto, cabe à Igreja apresentar os valores da política, defender a vida e sua dignidade, zelar para que todos tenham vez e voz, denunciar e não compactuar com práticas espúrias na administração pública com desvios de verbas e desmandos, com prejuízo para todos, especialmente os mais pobres e excluídos. Cabe também à Igreja lembrar que a vida dos candidatos conta muito: seu passado, seu compromisso, suas escolhas. É preciso conhecer o que o candidato defende e o que ele mais combate. É preciso estar de olho na sua vida pública, na ética que marcou ou não a vida deste ou daquele que pretende administrar os bens que são nossos, do povo e para o bem do povo. É prejuízo grande eleger candidato que tem um discurso bonito e arrumado, se as práticas desmentem aquele que fala bem e faz o mal.
Estamos diante de um dos julgamentos mais tremendos da história do país. A roubalheira com o saque criminoso do dinheiro público, feito pelos autores do mensalão foram até à instância judiciária da suprema corte do Brasil. E tem político envolvido. Faz pensar! Há muito o que caminhar na democracia. Corre-se o risco de se votar em candidatos sem nenhuma condição e sem dignidade para as altas responsabilidades que os aguardam. São os chamados "riscos da democracia". Riscos que existem em função unicamente de uma população despreparada ou descrente dos valores.
Não cabe aos cristãos, levianamente jogar pedras nos outros. Haveremos de amontoá-las e não usá-las para ferir ou destruir os outros. Sim haveremos de amontoá-las e construir a casa de Deus onde Ele seja louvado e glorificado pela vida dos que dizem nele crer. É preciso ver também (e não só nos candidatos!!!) quais são as incongruências e inconsequências da nossa vida, nossas incoerências e contradições. Sejamos humildes e não deixemos de ver o bem que deveria ser feito e não foi, o mal que deveria ser evitado e não o foi. Cada um terá seu mensalinho, quem sabe! Cada um se vende (não por dinheiro), mas se troca ou troca a própria dignidade de filho de Deus por um pouco de orgulho, por um pouco de egoísmo ou vaidade, por um pouco de ganância, por um pouco de prazer.
O discurso ético é para todos, também para os políticos e também para cada um de nós.
Fica essa pequena reflexão neste tempo de ebulição. Espero ter contribuído com o processo democrático....
A ti, Filoteu, desejo sabedoria e bom senso nas tuas escolhas políticas.
