"A solidez e a firmeza da verdade de Cristo se enche de doçura da doação de um Deus que é só Amor!”
(Pe Marcos Chagas)

domingo, 5 de junho de 2011

Aquele que desceu, agora subiu de onde veio

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Olá Filoteu

Hoje faremos uma pequena quebra na sequência de reflexões sobre a armadura do cristão para falar da grande solenidade de hoje: a ascensão do Senhor. No entanto, é sempre bom lembrar que o fim, a finalidade de toda essa luta onde esta armadura é usada, é exatamente para chegar ao céu, onde o Senhor Jesus nos precedeu com sua subida gloriosa. Pois bem, quarenta dias após sua ressurreição, o Senhor reunião seus discípulos da Gallieia, em um determinado monte que Ele antes indicara. São Mateus afirma (ver o texto todo em Mt 28, 16-20) que os discípulos ao verem o Senhor se prostraram diante dele. Atitude que dá a entender a atitude de fé no Cristo Senhor, verdadeiro Deus, além de verdadeiro homem. No entanto, alguns ainda duvidaram. Impressionante, parece que tanta manifestação de poder e de glória do Ressuscitado, além de outras manifestações durante os tempos de sua peregrinação na terra não foram suficientes para que alguns aderissem incondicionalmente nele. Em todo caso, cabe-nos uma mega pergunta, feita a nós mesmos: em meio a tantas manifestações de poder e de glória do Senhor, quantas vezes a dúvida ou a infidelidade tomou conta de nós! Sei lá, parece até que nossa fé carece de dar passos rumo ao um amadurecimento mais robusto e sadio. Que seja! Demos esses passos e, sem hesitar, demos a Deus nossa adesão generosa e amorosa.
O Senhor Jesus, antes de voltar ao Pai, afirmou que “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei”. Autoridade significa não somente forte poder, mas sobretudo meios e imensa unção para gerar crescimento nas pessoas. E no caso de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo tal unção e poder são ilimitados. E desse poder e autoridade nasce um mandato (não um pedido ou conselho). Tal mandato direciona-se para fazer das pessoas discípulos dele, discípulos que significa seguidores, imitadores, ouvintes atentos e obedientes. E a meta é ousada: “Todos os povos”. O trabalho é grande, mas não é impossível. Não está além de nossas forças se ele, com sua graça e poder nos ajudar. Somos chamados a ensinar não o que é cômodo ou fonte de satisfação para as pessoas ouvirem. Tal ensinamento é a Palavra da verdade, brotada dos lábios e coração do Divino Mestre, de sua vida e do seu mistério inefável. São palavras de vida eterna onde o céu e a terra passarão, mas suas palavras não passarão. Assim sendo, não estamos lidando com um projeto humano, ou um racionalismo criativo ou até de grande genialidade de invenção de idéias. São verdades absolutas, eternas e que, uma vez cridas e acolhidas pela fé, devem ser testemunhadas e ministradas na evangelização. “Ai de mim se eu não evangelizar” diz Paulo. Podemos pegar esse imperativo e aplicá-lo a nós, com certeza.


Onde está a certeza que tudo isso é possível? Ora, na presença do Senhor em meio a nós. Diz o hino das laudes da solenidade de hoje: “Com aqueles que habitam os céus, partilhamos tão grande alegria. Cristo a eles se deu para sempre e conosco estará cada dia”. Sim, caro Filoteu, somos imensamente felizes e precisamos dar razões de tanta felicidade. Com efeito, o Senhor Jesus ressuscitado está no meio de nós e, na companhia de tão maravilhosa pessoa, o Filho eterno do Pai, que nos dá seu Santo Espírito, nos revestimos de uma certeza que o céu já começa na terra. Permanece conosco aquele que subiu ao mais alto do céu. No dizer de S. Agostinho comenta: “Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus; contudo, continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros”. E para fundamentar isso, o bispo de Hipona lembra as palavras do ressuscitado ao perseguidor da Igreja, Saulo de Tarso que infringia imenso sofrimento aos cristãos: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9, 4). Além disso, no evangelho quis o Senhor, mesmo depois de ressuscitado, identificar-se com os que sofrem todo tipo de tribulação: “Estava com fome e me destes de comer” (Mt 25, 35). Prossegue ainda Agostinho: “Por que razão nós também não trabalhamos aqui na terra de tal modo que, pela fé, esperança e caridade que nos unem ao nosso Salvador, já descansemos com ele no céu? Cristo está no céu, mas também está conosco: e nós, permanecendo na terra, estamos com ele. Por as divindade, por seu poder e por seu amor ele está conosco; nós embora não possamos realizar isso pela divindade, como ele, ao menos podemos realizar pelo amor que temos para com ele”. Por isso, ao celebrar a solenidade da subida ao céu, do Senhor e Salvador nosso Jesus Cristo, resta-nos fazer ecoar em nossos corações o apelo de Agostinho aos seus fieis de Hipona: “Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba com também com ele o nosso coração”. Ou como diz Paulo, o apóstolo, escrevendo ao colossenses: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres” (Cl 3, 1-2). Esse apelo e exortação de Paulo de forma alguma é um desestímulo a que façamos a diferença no serviço de transformar o mundo e as realidades que lhe são próprias. De fato, nada de alienação ou omissão em ser testemunha, em propor sem medo ou falsos complexos de inferioridade a proposta de Nosso Senhor. De fato, a salvação que o Senhor oferece à humanidade deverá ser partilhada por nós com o nosso testemunho e nosso engajamento evangelizador. Além disso, é bom considerar que somos peregrinos, caminheiros, estamos de passagem. Por isso, não nos cabe apegar-nos ao que passa. O desejo do céu não aliena, nem afasta as pessoas de suas obrigações e compromissos, mas as faz pessoas conscientes de que tudo passa mesmo. O desejo do céu faz com que a vida neste tempo presente se torne uma antecipação pela esperança dos bens prometidos e pela fé que age pela caridade gere uma expectativa do encontro com o Senhor, em função da plenitude que tamanho dom nos reserva. Por isso, Filoteu, eu te exorto a que alimentes tão grande alegria de ir para o Céu, viver para sempre na visão beatífica e faças de tudo e, sê um cristão consciente do que Deus te reserva, algo que nosso coração não pode sentir, nossos olhos não podem ver, nem mesmo nossos ouvidos podem ouvir. Coragem, renúncia e disposição não te faltem para esse combate da fé para alcançarmos esse estado de felicidade total. Insensato seria quem no curso da caminhada se entrete tanto com a paisagem, as árvores, os rios e o canto dos pássaros que se esquece de prosseguir na sua viagem. Chegará a noite da morte e o surpreenderá no meio do caminho, sem ter chegado ao fim.
Que a festa da ascensão te encha dessa alegria verdadeira a que se refere Paulo: “alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração” Rm 12, 12.
Um abraço para ti, caro Filoteu, cidadão do céu!

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