Oi Filoteu!
Meu desejo inicial é que tua semana seja realmente santa. E os
personagens que se fazem presentes na liturgia nos ajudam e muito para pensar, tirar conclusões importantes a respeito da nossa vida e dar rumos à nossa caminhada. E nesta postagem pensei em Pedro, a pedra, a imagem da solidez e estabilidade (ver Mt 16, 18). Com certeza, não deixou de ser em função de "algumas bolas fora" que ele deu, em função de suas fraquezas e titubeios (isto é, de suas bobeadas) que essas promessas de Deus deixaram de se cumprir. Mas, as fraquezas de Pedro nos ensinam e falam das nossas também.
Vamos aos fatos e às lições que podemos tirar deles. O evangelista João
nos narra que na última ceia, estando à mesa com seus discípulos, Jesus afirmara que para onde iria, os seus discípulos não poderiam ir (ver Jo 13, 33). Pedro, muito generoso e sinceramente afeiçoado ao seu Mestre, com certeza, era também muito impulsivo e precipitado. Ao escutar que Jesus iria sofrer a paixão sozinho (com certeza, sem conhecer as implicâncias e desdobramentos ultra-dolorosos dessa experiência) pôs-se a insistir, teimar com o próprio Cristo Senhor. Com efeito, Jesus tentou frear essa impulsividade do seu discípulo e disse: "Para onde eu vou, tu não me podes seguir, mas me seguirás mais tarde" (Jo 13, 36). Ora, quando Jesus afirmou que Pedro não poderia segui-lo, não há o que discutir. Não poder é não poder mesmo. Numa palavra; É IMPOSSÍVEL! Quem o declara não é qualquer um, é o Filho de Deus, Deus com o Pai que sabe o que não sabemos. Onde está o erro crasso de Pedro? Ele insistiu no seu ponto de vista e nos seus heróicos propósitos. Em suma, deu uma de super-homem. E Deus, não precisa de super-horóis, caro Filoteu. Deus não precisa desses super dotados, desses super poderosos. Deus não precisa de nada e de ninguém, mas no seu amor e tolerância infinitas, Ele quer precisar. E de quem Deus quer precisar? De gente humilde, consciente dos seus limites e pecados, de gente que sabe ser administrador e não proprietários dos dons de Deus, de gente disposta e generosa para fazer não tanto o que pensa e o que quer, por melhores, geniais, brilhantes e por santos que sejam seus propósitos e ações, se tal não for da vontade de Deus. Essa foi a mancada do príncipe dos apóstolos. Quis, apoiado em suas forças e no próprio heroismo, dar a vida pelo Mestre: "Senhor, por que não posso seguir-te agora? Eu darei a minha vida por ti" (Jo 13, 37). Quis ser generoso, mas acabou sendo presunçoso. Ante tal insistência, Jesus abre os véus do futuro e mostra a Pedro sua grande fraqueza que se manifestará em função de sua teimosia e desobediência: "Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: o galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes" (Jo 13, 38).
E, como foi tal negação? João nos narra essa tríplice negação: ante uma
criada (imagine só, uma mera criada) quando esta pergunta-lhe se ele é discípulo do condenado Jesus, ele diz: "não sou" (ver Jo 18, 17). Em seguida, alguém ou algumas pessoas (que João não define quem é ou quem são) faz ou fazem a mesma pergunta e ele nega. A terceira indagação foi feita por um dos servos dos sumos sacerdotes, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha. Logo quem? Aqui, Pedro está no perigo! risco grande e seria preciso coragem para responder afirmativamente. Mas,o medo tomou de conta e o pobre apóstolo não quis correr os riscos em partilhar a dolorosa sorte do seu Mestre (ver Jo 18, 25-27).
Então, onde está o problema de Pedro? E os teus? e os meus? e os nossos? Pedro não prestou atenção aos tempos e modos com os quais Ele deveria seguir Jesus. Era preciso que Jesus fosse na frente, sofresse sozinho a paixão, vivesse as agonias do jardim das oliveiras, sofresse os ultrajes físicos e psicólógicos infringidos pelos lideres religiosos, dos militares e da gentalha, sofresse com a covardia de um governador romano e uma solidão imensa gerada pela ausência da grande maioria de seus discípulos (sem falar da cruel traição de um deles) e por parte do abandono do próprio Pai celeste. Era preciso tudo isso, era preciso morrer e consumar a obra do Pai para depois ressuscitar glorioso, subir ao céu e mandar o Espírito para que, na força desse mesmo Espírito, Pedro e os demais vivessem, na parresia, na coragem e na franqueza do testemunho do Evangelho, a missão de anunciar Jesus e dar a vida por Ele. A esmagadora maioria, de fato, desses homens, pagou com a própria vida, ou seja, esse testemunho foi dado até o derramamento de sangue.
É isso aí, caro Filoteu, tudo isso aconteceu, ou seja, os apóstolos deram conta do recado e Pedro, na liderança, mas, na força do Espírito do Ressuscitado que passou pela cruz e não antes, nem depois, mas sempre nos tempos de Deus. Não basta boa vontade, nem mesmo coragem humana para ser testemunha de Cristo. Não basta! Não basta! Não basta! Aliás, boa vontade, heroismos, conhecimentos, sucesso,estratégias organizacionais, tudo isso até atrapalha, se não for usado, segundo Deus e no poder do Espírito. Quantas vezes se nega Jesus por faltar essa dependência da sua graça, porque a eficiência vai gerando produtividade, mas falta a fidelidade que gera fecundidade. Na obediência vivida na sobrenaturalidade da fé e na humildade,na busca da vida de oração e na reflexão da Palavra de Deus, na atenta acolhida da orientação da Igreja, na reta intenção para fazer a vontade de Deus, só assim, o Dom do Espírito nos será concedido. Só assim, caro Filoteu,
seremos capazes para viver o que Deus quer de nós. Deus queira que, nas bobeiras cometidas da negação de Cristo e de sua vontade, cante o galo da nossa consciência para que depertemos para a verdade e liberdade que o Senhor nos dá para segui-lo e testemunhá-lo. A primazia (ou seja o primeiro lugar) deve ser dado à graça de Deus. Nada podemos por nós mesmos sem Ele: "Sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15, 5), conforme afirma o próprio Senhor. Nessa mesma linha, o apóstolo ensina: "É Deus quem nos mantém, a nós e a vós, fiéis a Cristo: ungiu-nos. (...).Não é que por nossa parte sejamos capazes de atribuir a nós alguma coisa, mas nossa capacidade vem de Deus (2Cor 1, 21.3, 5).
Caro Filoteu, seja feliz nessa fidelidade, vivida no poder do Santo Espírito de Deus.
OREMOS COM O Sl 30/31:
Senhor eu ponho em vós minha esperança; que eu não fique envergonhado eternamente! Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito, porque vós me salvareis ó Deus fiel! A vós, porém, ó meu Senhor eu me confio, e afirmo que só vós sois o meu Deus! Mostrai serena a vossa face ao vosso servo, e salvai-me pela vossa compaixão!
sábado, 23 de abril de 2011
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