Ei Filoteu, pra você entender bem esse história que transcreverei agora, de um livro que achei, peço que você releia ou leia o texto de Jo 2, 1ss (aquele das Bodas de Caná). Reflita bem sobre o que segue;
As Talhas
Estavam ali reunidas as seis talhas. Eram pesadas porque de pedra, mas amigos e vizinhos prestativos as haviam trazido e preparado para as ablusões. Continham muita água.
Era dia de festa. As bodas estavam sendo celebradas no alpendre, porque a casa era modesta e os convidados numerosos. Grinaldas de flores e folhagem ornamentavam o ambiente rústico e singelo.
As talhas conversavam. Comentavam a timidez da noiva, que ora corava, ora empalidecia, sorrindo furtivamente para o noivo que, por sua vez, parecia querer sorvê-la com um olhar ardente.
Observavam também outra mulher que ali estava junto à mãe do noivo. Era simples e modesta, de uma beleza serena e luminosa como um luar de madrugada. Os seus olhos, solícitos, mas reservados, se velavam como duas lagoas tranquilas na montanha, sob a neblina matinal.
Uma das talhas falou: "Que pena sermos grandes e pesadas. Gostaria de ser aquele cântaro leve e gracioso sobre a mesa, ou como uma das taças de argila que contêm pouca água, mas podem ver de perto o que se passa no banquete". "Não contém só água" disse outra, mas vinho. São bem mais nobre do que nós". - "Mais distintas" - acrescentou uma terceira. E outra: "Não ficam paradas e vêem muito mais..." E ainda outra: "Sentem o calor humano dos lábios e das mãos....".
A sexta talha estava calada, pensativa. Por fim falou: "Estou satisfeita como sou. Aprecio a minha solidez e sirvo bem. A fragilidade também tem os seus incovenientes".
Nesse momento, um dos convivas deu com o braço numa taça que caiu no chão ruidosamente, partindo-se em pedacinhos. As talhas se acotovelaram e riram. "Quem te deu tanta sabedoria?" perguntou uma à que falara por último. "A idade", respondeu ela.
Foi aí que entrou mais um grupo de convidados. Tinham jeito de pescadores bronzeados pelo sol, frontes plasmadas pela profundidade do mar e pela altura das núvens, ombros habituados ao desafio das ondas. Um deles não parecia pescador, mas tinha as mãos calejadas do trabalhador manual. Poderia confundir-se com os outros se não fosse as estrelas nos olhos. E quando as estrelas dos olhos miraram as duas lagoas tranquilas que eram os olhos da mulher, a neblina se desfez e refletiram limpidamente o seu fulgor.
Ninguém notou que os donos da festa estavam inquietos com a chegado do grupo, a não ser a mulher serena e solícita. Ergueu-se discretamente e foi falar com o lhomem das estrelas nos olhos.
Só as talhas, agora vazias com as últimas ablusões repararam. E quando, a mulher se voltou para os serventes, sua voz soou como campainhas de cristal: "façam o que ele vos disser". E os servos retiraram delas vinho róseo, espumante, do melhor.
Na hora ninguém deu conta de nada. As talhas sim. Compreenderam que algo de muito grande se passara. E a mais sábia murmurou: "Estou feliz de ser talha. Chega sempre para cada ser, um momento que o supera. Uma glória que ele pode realizar".
A festa continuou no apogeu da animação. A mulher fitou o homem com carinhosa gratidão. E as estrelas nos olhos dele se refletiram mais uma vez nos olhos dela, antes que a neblina tornasse a velar recadamente aquelas lagoas tranquilas.
Poucos têm a sabedoria da sexta talha e que se julgam felizes como Deus os fez. Desejam sempre algo mais, para além dos seus horizontes, sem esperar e sem saber que cada vida tem a sua hora suprema o seu momento especial que te ultrapasam. Cada um tem uma missão, importante, sem dúvida, gloriosa, com certeza. Tal missão deve-se cumprir.
Pelo que Você me deu, ó meu Deus, e pelo que achou por bem não me dar, obrigado Senhor!
Um abraço pra você, Filoteu.
Ser somente o que Deus quer. Estar na sua vontade me basta, pois Ele me enche de plenitude.
Obrigado Pe.Marcos, pela forma como expressou esse cenário e por suas sábias palavras.